Que fariam os homens das cavernas, coração batendo encostado à terra, nos seus descansos entrecortados de sobressaltos, ambos virgens de corrupção, com terrenos insondáveis a serem desvendados, átomo a átomo na alma do homem, palmo a palmo na superfície e no interior da terra?
Que poderiam fazer no seu imensurável espanto? Acossados pela fome e pelo medo, atiram-se a tudo.
Acovardam-se diante dos elementos que não podem matar nem vencer, e dos quais não podem fugir, como fogem das feras, nos seus épicos desesperos de caça e caçador a um tempo.
Não podendo se defender dessas potências insensíveis, pelos meios comuns, instintivos e brutais, tomam a atitude impotente da caça perseguida até o seu último reduto. Ajoelham-se e esperam.
Prosternam-se e resignam-se. Ainda não têm deuses. Fora de si mesmos só há inimigos.
Inventam os demônios. Criam seres pavorosos, saídos da morte que os aterra.
in: Os Filhos do Medo, Editora Globo, 1950.
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