Ruth Guimarães
José Luís Pasin vinha desde 1975 batalhando pela criação de um órgão de defesa do meio ambiente. Fez de sua fazenda, a Boa Vista, um refúgio e um modelo. Na Fazenda Boa Vista, da Roseira Velha, podemos encontrar a planta que rareia, as flores silvestres, as de jardins antigos, aqui a perpétua roxinha, mensageira dos recados de amor, o coração-magoado, o caeté, o girassol do campo. Árvores que não existem mais, quase, como o jenipapo, o abio, a uvaia, um sem-número de plantas medicinais, de quintal e de horta, e muitos animais de que hoje nem se ouve falar: galinha d’angola, galinha arrepiada, peva, nanica, pedrês, pescoço pelado, peru branco, pato bravo, paturi, marreco, frango d’água.
Lembrei-me de lhe perguntar:
- De onde veio essa ideia de colecionar brasileirices que quase toda a gente já esqueceu?
- Em primeiro lugar sou de uma linhagem de homens da terra. Há muito tempo venho me batendo pela preservação do que é nosso e viver de maneira a não perturbar o equilíbrio ecológico, que é um milagre de harmonia. Matamos as cobras, e, vejam!: os ratos nos destroem as plantações e a saúde. Derrubamos as árvores, acabam-se os pássaros. Mesmo reflorestando, na ausência de mata nativa, os pássaros fogem. O pinheiro europeu, o pinus, é lindo, verde, com agulhas apontando para o céu. No entanto, em mata de pinus reina a maior desolação. Os pássaros não o aceitam. Antes de tudo, eu quis fazer um refúgio para os pássaros. Um céu deles, onde pudessem fazer os seus ninhos, celebrar suas vitórias, cantar.
- Eles têm muito céu por aí...
- Engano. Matas não há mais. A fumaça das fábricas está acabando com o céu. Dentro de dez anos, o Vale do Paraíba será uma única cidade, a Megalópole, que irá num estirão só, do Rio a São Paulo. Estou construindo o meu oásis, inclusive ao pseudo-pensante, o homem.
- E quem o apóia, meu Dom Quixote?
Éramos muitos nessa noite, na Roseira Velha, onde um visionário tentava conservar o Brasil brasileiro, à maneira dos tempos primevos.
A tentativa foi frustrada, mas a semente se quedou viva, no fundo da terra, ou da alma, se quiserem.
Agora me vem a notícia de que José Luís Pasin está novamente ensinando novas cantigas às avezinhas do Senhor e reinaugurando, quimericamente, quixotescamente, franciscanamente, um céu dos passarinhos.
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