Ruth Guimarães
Aquele
relógio da torre da igreja é horrível nunca está certo, mas assim mesmo, a cada
cinco minutos lá estamos nós olhando para cima, conferindo as horas. O saibro
canta sob os passos que vêm e vão, da menininha que corre, perninhas curtas, tortas,
gordas, cheias de covinhas e de roscas: da moça de saltos, dos colegiais,a
moça com a criança,os operários que vão para o almoço.
A gente que passa varia.
A gente que passa varia.
Ora,
são as mulheres com bolsas de compras, apressadas, mas não muito, havendo
sempre tempo para uma boa prosa. Ora, à saída das escolas, os uniformes em azul
e branco. As cores também mudam. De que cor é o branco da manhã clarinha, logo
às primeiras horas, recém-levantada da cama do dia, a face ainda molhada de
orvalho? De que cor é a cabeleira de sol, desnastrada pelo céu de água-marinha?
De
que cor o dourado da manhã que adolesce. Os passantes não percebem. Não viram o
broto que espia em cada nozinho dos ramos, nem as últimas azaleias
brancas escondidas no verde escuro das folhas. Nem que as onze horas,
sorrateiramente se abriram no canteiro em forma de estrela. Nem que a terra sob
as arvores fresca e cheirosa, como se o Criador tivesse acabado de fazê-la.
Mas
não é isso. Claro que não é isso. Não é o ver, é o sentir. É o ser. Ou o
deixar-de-ser.
Quem passa está ocupado com o por vir e com o afazer. Está com pressa. Vai não sabe onde, buscar não descobriu o que, ansioso e agitado, pois ainda não aprendeu a lição a respeito da desimportância da vida.
Quem passa está ocupado com o por vir e com o afazer. Está com pressa. Vai não sabe onde, buscar não descobriu o que, ansioso e agitado, pois ainda não aprendeu a lição a respeito da desimportância da vida.
Eu
sei porque velho gosta de ficar no jardim da praça. Gente precisa de gente prá
viver.
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