sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

A obra de Ruth Guimarães no movimento regionalista brasileiro

O romance “Água Funda” se inscreve no movimento regionalista da chamada geração de 1945, que na realidade foi a terceira geração do modernismo no Brasil.

Didaticamente, a primeira geração é aquela que conhecemos como o grupo da Semana de Arte Moderna de 1922, com Mário de Andrade, Sérgio Milliet, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Osório César.

A segunda geração, que vai de 1930 a 1945, foi inaugurado por Rachel de Queiroz (com O Quinze, de 1930) e teve José Lins do Rego (com Menino de Engenho, de 1932), e Graciliano Ramos (com São Bernardo em 1934 e Vidas Secas, em 1938) entre seus principais nomes, na prosa. Na poesia, estão Vinícius de Moraes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, Murilo Mendes, Carlos Drummond de Andrade, entre outros.

Antes de passar para a terceira geração, à qual pertence Ruth Guimarães, é preciso entender o contexto mundial da época.

O ocidente, mal refeito da Primeira Guerra Mundial, com todas as mudanças geopolíticas que dela resultaram, estava mergulhado em outras desventuras trágicas – a migração maciça e a reconstrução dos países destruídos. Além disso, a queda da Bolsa de Nova York, em 1929, tinha abalado o mundo de tal forma que até as relações políticas estavam contaminadas pela economia. Naquele ano, o presidente brasileiro Washington Luís indicou como seu sucessor o então governador do estado de São Paulo, Júlio Prestes. A oposição era liderada por Getúlio Vargas. Júlio Prestes venceu, mas não levou. Getúlio, com apoio das famílias mais tradicionais e dominantes, liderou o movimento tenentista e assumiu o poder.

A literatura refletiu todas essas perturbações. E abandonou o viés romântico, assumindo um tratamento mais realista nas narrativas. Os escritores passaram a mostrar mais o homem perante sua condição social, enfatizando, sobretudo, a miséria, as favelas, a seca e a luta pela sobrevivência aliada ao descaso dos políticos. Não por acaso, a região nordestina era a mais enfocada – graças, especialmente, ao estonteante sucesso de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, um trabalho notoriamente pré-modernista.

O decênio de 1930, segundo Antonio Candido, representou uma arrancada do pensamento e da literatura. Comenta o crítico (falecido em maio de 2017) que o romance produzido nesse período se caracteriza pelo neonaturalismo e pela inspiração popular, retratando os dramas peculiares do país, tais como a decadência da aristocracia rural, principalmente dos senhores de engenho, e a consequente formação do proletariado, em José Lins do Rego; a luta do trabalhador, em Jorge Amado; a escravatura do trabalhador rural e o êxodo para as cidades, em José Américo de Almeida e Graciliano Ramos; a vida difícil das cidades em rápida transformação, em Érico Veríssimo.

Destaca-se, nesse período, ao lado da ficção, o ensaio histórico-sociológico. Um de seus maiores representantes é Gilberto Freyre, com Casa-Grande e Senzala, Sobrados e Mucambos, e Nordeste (ainda nas palavras de Antonio Candido), obras nas quais segue as tendências do Modernismo, ao estudar o papel do negro, do índio e do colonizador na formação da sociedade ajustada às condições do meio tropical e da economia latifundiária. Igualmente importantes são Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo História Econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior.

Com a instauração do Estado Novo ditatorial e antidemocrático, tem-se o ápice do Modernismo ideológico, e uma recrudescência do espiritualismo, estético e ideológico, na análise de Antonio Candido. Portanto, o decênio de 30 apresenta, no Brasil, sobretudo em seus últimos anos, intensa carga espiritualista. Oriundas do Simbolismo, do nacionalismo das pregações católicas de Jackson de Figueiredo, desenvolvem-se diversas tendências ideológicas e estéticas. Como exemplos dessas tendências, pode-se citar o romance introspectivo de Cornélio Pena, Fronteira, e de Lúcio Cardoso, Luz no Subsolo, Mãos Vazias, o romance social de Plínio Salgado, O Esperado, O Cavaleiro de Itararé, o romance dramático, de Octavio de Faria, Mundos Mortos, Caminhos da Vida. Na poesia, destacam-se Augusto Frederico Schmidt, de tendência neo-romântica, e Jorge de Lima e Murilo Mendes, de tendência católica. “O decênio de 30 nos aparece agora como um momento de equilíbrio entre a pesquisa local e as aspirações cosmopolitas, já novamente dissociadas em nossos dias de sectarismo estreito acotovelando-se com o formalismo”, esclarece Candido.

Como sabemos, a arte literária camufla, por meio da linguagem, toda uma ideologia, seja ela social, histórica ou cultural.

Foi em meio a esse contexto histórico, social e cultural, que aparece a geração modernista de 1946. Essa geração teve, na poesia, nomes como Cassiano Ricardo, Péricles Eugênio da Silva Ramos, Raul Bopp.

Na prosa, surgiram Lygia Fagundes Telles, Guimarães Rosa e Ruth Guimarães. Aliás, esses três fizeram um lançamento conjunto em 1946, cada qual com seu livro – “Praia Viva”, “Sagarana” e “Água Funda”. Cyro dos Anjos, que havia lançado “O amanuense Belmiro”, em 1937, voltava à cena literária com “Abdias”, em 1945. Há extensa cobertura da imprensa da época, mostrando Cyro dos Anjos e Ruth Guimarães, em alegre conversa, durante o lançamento de “Abdias”, em São Paulo, em 1946.
Para a crítica literária, o regionalismo é um movimento superado.

Ora essa! A própria crítica literária está em processo de falência, já dizia Leyla Perrone-Moysés.

Os jornais trazem resenhas apenas dos livros mais vendidos (e dá-lhe autoajuda). A revista Veja publica semanalmente uma lista – também apenas dos mais vendidos, e 80% deles são livros estrangeiros. Não há mais crítica literária na imprensa, desde que se aposentaram Antonio Candido e Nelly Novaes Coelho e desde que morreram Álvaro Lins, Nelson Werneck Sodré e Wilson Martins.

Cito três críticos remanescentes: Silviano Santiago, imbuído de uma noção imperial de escolha, Marcelo Coelho, que tem talento e competência mas segue ditames da Folha de São Paulo, e João Batista Natali, também da Folha, também sensato, mas também Folha de São Paulo.

Esmiucei tudo isso no meu livro “Imprensa, Poder e Crítica”.

Dentro desse redemoinho, ou dessa rede de moinhos, Ruth Guimarães aparece, aos 26 anos, com um romance que instantaneamente chamou a atenção da crítica. Ah! Sim. Na época existia crítica.

Opinião de críticos

Antonio Candido louvou o romance. Vamos ouvir o que ele escreveu:

“Este livro exprime bem o equipamento cultural e a visão de mundo de Ruth Guimarães, prosadora de qualidade e conhecedora profunda da cultura popular brasileira. É um romance, mas escrito como se fosse prosa fiada, como se fosse narrativa caprichosa que vai indo e vindo ao sabor da memória, ao jeito dos contadores de casos. Esta primeira impressão é justa, mas não deve esconder do leitor o que há neste livro de composição deliberada, de técnica bastante complexa, rica em elipses, em saltos temporais, em subentendidos. O que à primeira vista pode parecer meio solto vai se revelando bem travejado, regido por um intuito fabulativo que dá ao todo a necessária coerência, sem a qual não se instaura a verossimilhança.

Isso, quanto ao modo de contar. Quanto à linguagem, a construção talvez seja ainda mais elaborada, porque Ruth Guimarães consegue produzir um discurso de tonalidade espontânea, mas de fato carregado de estilizações bem conduzidas. Aqui não há o desagradável cacoete de muitos regionalistas: o de querer imitar com ânimo de exotismo pitoresco os modismos caipiras foneticamente sugeridos, do tipo “bamo ino” por “vamos indo” ou “entonce num havera de sê?”. Nada disso em Água Funda, caracterizado pela elaboração arte-ficial de uma linguagem que obedece à disciplina da gramática e, ao mesmo tempo, parece sair da boca do povo rústico. Isso se chama literatura e consiste em inventar uma linguagem suspensa entre o popular e o erudito, fazendo do livro obra que tem o timbre das realizações cheias de personalidade.

A interpenetração popular-erudito existe na própria concepção do livro, que é a história de um pequeno grupo rural de onde emergem certos personagens selecionados, sobretudo o par Joca e Curiango, sendo, ao mesmo tempo, uma espécie de afloramento do estrato mágico e lendário. De tal maneira, que a história do par central pode ser lida tanto como conseqüência das vicissitudes comuns da vida, quanto como produto de forças misteriosas encarnadas nos mitos intemporais. Há superposição, da qual resulta uma dupla leitura, cuja última instância seriam figuras como a Mãe de Ouro, entidade perigosa do tipo das Iaras, que pode assumir formas diversas no populário e aparece aqui sob o aspecto sideral de luminosidade fatídica.

Essa comunicação das esferas, do real ao fantástico, enriquece o texto e está ligada ao próprio teor do discurso. De fato, o livro é narrado por alguém que não se identifica, dotado de perspectiva onisciente e, parecendo membro do grupo descrito, é capaz por isso mesmo de assumir uma taxa de credulidade que justifica as discretas invasões do pensamento mágico. Esta voz penetra todos os refolhos das pessoas e do mundo e, ao deixar suspensa a possibilidade do fantástico explicar o real, assegura, ao mesmo tempo, a integridade deste. E nós podemos sentir, assim, a realidade viva de uma região, com a sua natureza, os seus costumes, os seus tipos humanos e também a magia insinuante dos mistérios que a mitologia popular exprime.

Por isso, talvez sejam felizes entre todos os momentos em que o narrador fala diretamente, porque então sentimos a fusão da escritora culta e da voz que ela inventou para animar o relato. É o caso do começo do livro, por exemplo, e também de muitos outros trechos, como a descrição da missa campal.

O que estou procurando sugerir é a complexidade dessa narrativa despretensiosa, que sabe fundir os planos e passa com tanta maestria do individual ao coletivo, do natural ao social, do real ao mágico. Voltando ao começo, é bom insistir no fato de Ruth Guimarães ser não apenas uma escritora bem dotada para a ficção, mas uma autoridade nos estudos da cultura popular, cultura que em Água funda constitui verdadeira rede de sustentação. Livros da autora como Os filhos do medo, como os contos que compendiou, como o belo estudo infelizmente ainda inédito sobre o ciclo de Pedro Malasarte, Calidoscópio, mostram grande saber folclórico servido por uma expressão clara e elegante, própria dos bons escritores. O leitor verá, neste livro, que a fluência da narrativa, a felicidade dos achados estilísticos e a densidade humana do todo fazem da leitura uma experiência válida e um grande prazer. 

Nelson Werneck  Sodré admirou “Água Funda”. Vejam o que ele escreveu, num artigo chamado “O Velho Vale”:

Ruth Guimarães, em Água Funda, foi a narradora desse quadro de fundo das crenças e dos conhecimentos populares, na região em que o vale toma contato com o sul mineiro, ali mesmo onde, há tantos anos, que se contam como séculos, os bandeirantes procuravam a soleira fácil da Mantiqueira, para passagem à zona mineradora, onde o Paraíba, apertado pelos contrafortes de Quebra-Cangalha, se precipita nas corredeiras a que tomou o nome a cidadezinha depois  batizada de Valparaíba. Todo o conteúdo emocional e pungente, cheio de reminiscências dos mais velhos tempos e ungido da graça e da facilidade popular, foi captado, com inteligência e arte pela narradora, que os fixou numa obra que, constituindo-se um exemplo excelente de técnica literária, ficou profundamente ancorada nos motivos populares.
Esse  encantamento,  esse sortilégio profundo do vale, ainda quando os seus filhos se afastaram para outras zonas, ficam em suas memórias. E assim começam a surgir os escritores que, recordando-se das paisagens da infância  e da adolescência, recortam-nas com rigor e vivacidade, dando-lhe forma literária.

Guimarães Rosa o invejou. Ele escreveu uma dedicatória, no seu livro “Corpo de Baile”, dizendo a Ruth o seguinte:

“Ruth Guimarães, minha irmã, parenta minha, que escreve como uma fada escreveria”.

Alves Mota Sobrinho, em artigo publicado na Revista Ângulo, por ocasião do cinquentenário do lançamento de “Água Funda”, em 1996, escreveu:

Eu resumo “Água Funda” em três palavras: telúrico, ecológico e mítico.

“Água Funda” é telúrico, porque brota da terra.

Ecológico, porque as paisagens - física e humana - se transformam e também são transformadoras.

Mítico, porque mostra a busca da Mãe de Ouro, forte, inatingível, porque inexistente, fruto do imaginário popular.

Ruth, nos anos que se seguiram ao lançamento de “Água Funda”, foi princesa, nos jornais paulistas: Correio Paulistano, A Manhã, Folha de São Paulo, Diário de Notícias, A Gazeta.

Voltaria a ser notícia quatro anos depois, em 1950, com o lançamento de “Os Filhos do Medo”, uma pesquisa de fôlego que levou debaixo do braço para mostrar a Mário de Andrade, o Mário da Paulicéia Desvairada, o Mário de Macunaíma. 

O romance

O romance "Água Funda" retrata a região sul-mineira do início do século. É uma história de costumes, com a análise fundamental dos personagens e sua ligação com a terra, os conceitos de família, sociedade, amor e dinheiro, num momento da vida brasileira em que a máquina chegava para substituir os operários, os caminhões expulsavam das estradas as tropas de burros e o homem pobre não sabia muito bem como se estabelecer dentro dessa nova relação. A linha-mestra é o amor e a loucura do amor, ou a loucura do desamor. Todos os personagens são reais, e embora as situações específicas sejam fictícias, os acontecimentos se deram, precisamente como foram contados. E, como frequentemente acontece, ninguém aprendeu nada do seu significado. "Água Funda" é um retrato do Brasil, na corrente literária regionalista que teve como princípio o resgate do pensar brasileiro, e do sentir brasileiro.

As inovações de Água Funda

Água Funda é uma rapsódia sertaneja. Rapsódia é uma composição musical de temas populares. Isso nos leva à musicalidade na escrita de Ruth.

Além disso, foi uma obra pioneira em vários aspectos:

1) anotou o papel da mulher independente (antes de José Lins do Rego e Graciliano Ramos)

2) promoveu a transição para o mítico, de base folclórica, mais ou menos como Mário de Andrade fez em Macunaíma

3) fez o registro da identidade brasílica, do caipira paulista e mineiro – na esteira de Valdomiro Silveira, sobre quem escreveu em 1974 um livro a quatro mãos com Bernardo Elis, da Academia Brasileira de Letras. 

Uma curiosidade: o caipira acredita em praga. Ruth, que não era católica praticante, acreditava em praga.

A autora

Ruth Guimarães foi mulher de grande atrevimento diante da vida. Tinha o atrevimento dos inconformados, o atrevimento dos inquietos.

Uma mulher de grande força de trabalho. Produziu uma portentosa pesquisa, o “Dicionário de Mitologia Grega”, para a Editora Cultrix, em um ano, porque precisava comprar uma casa.

Mulher de princípios éticos e de retidão. Honestidade a toda prova, inclusive nas palavras. Solidária, ensinando o que sabia, inclusive mulheres pobres a produzirem artesanato como fonte de renda. Fraterna. Atendia, o dia inteiro, pessoas que batiam à sua porta, desde intelectuais para um dedo de prosa quanto mendigos em busca de um prato de comida. Carismática. Líder. Serena.

Encerro com uma pequena crônica sua, texto que, ao mesmo tempo que lhe revela o espírito, serve-lhe de epitáfio:

É julho
Ruth Guimarães

Quando esta crônica for lida, já estarei na chácara, em pleno Vale do Sol. É julho. É julho das noites límpidas, de lua líquida, de céu profundo, de estrelas geladas. É julho e a mangueira se enfolhou de novo e se cobriu de flores. Contra o luar, ela parece solene, grandona, misteriosa. Muito alta, toca as nuvens e as galáxias. Por ela roçam os anjos de asas imensas. De dia, ela perde em espessura, despojada da escuridão e ganha em juventude. Não mais joias dos astros, na cama de veludo e sombra. Seu toucado é feito de flores e abelhas. Está enfolhada para a festa nupcial, coberta de verde novo, e de pétalas antigas. O vento aí vem, enamorado, soprando manso, nas tardes finas. Ouro velho forra o chão, suntuoso tapete de desenhos inimitáveis. As abelhas voam zumbindo. Na florada da manga o mel é grosso, é forte, cheira bem.

Na chácara o sol se levanta cedo. Às sete da manhã já está de fora, gloriosamente, acabando de esfiapar um resto de neblina. E se reclina sobre a mangueira feliz, reverdecida, tonta. Quem o anuncia é a corruíra, que fez um ninho complicado nos ramos do maricá, depois que brigou com a pitangueira.

É julho. Jamais esmaece o verde da grama. Jamais esmaece o verde-oliva das laranjeiras cheirosas. Jamais esfria o raio de sol. Jamais empalidece o azul cobalto do sol. Jamais entristece a cançãozinha clara do Paraíba, murmurante entre as pedras, todo revestido de luz.

Mas as bananeiras de tronco roliço e palmas longas soltam grandes cachos, que vão granando e amadurecendo, como se não fosse julho. Mas os limoeiros perfumados têm flores e frutos a um tempo, num desperdício. Mas os sanhaços furam os mamões de casca dourada e polpa doce, macia, escorrendo melado, que os passarinhos desprezam e as vespas aproveitam. Mas as velhas goiabeiras, que já estão meio caducas, não esperam a chuva: as goiabas amadurecem, entre os vivas dos bem-te-vis e a zoeira dos marimbondos.

Há muito tempo, eu não ouvia os sinos. Aqui eu ouço os sinos. Ninguém me acredita. Mas é julho, é inverno, os morros vestem a florada roxa do capim-angola, as maitacas voam cedo para o mato, voltam num clamor, às cinco da tarde. Asas de andorinha riscam (é julho) o céu sereno. Elas daqui não se vão.

Da última vez que cheguei, foi com o repetido suspiro de alívio que me confiei à sovada cadeira de braços, entre paredes bem precisadas de pintura, coitadas! Havia de novo uma goteira. Deixem-me contar de outro jeito: havia uma nova goteira. Lá estava a mancha. À entrada, o degrau parece que me reconhece, estalou devagarinho, cumprimentando.  O espelho também me reconheceu. Diante dele não estava a estranha de outros reflexos. Precisei de andar descalça pela casa toda, pois na sapateira, como de costume, nenhum sapato, nem novo nem velho. Estariam por aí. Depois de vasculhar com uma vassoura, embaixo das camas, encontrei dois pés direitos de chinelo.

Qu’importa lá?

Aqui sou rainha, sou czar, sou Deus, e como amo esses chinelos doidos!

Então não é isso a felicidade?
  








Joaquim Maria Botelho, jornalista e professor, mestre em Literatura e Crítica Literária pela PUC/SP e especialista em Jornalismo Internacional pela Universidade de Wisconsin, EUA. Foi presidente da UBE – União Brasileira de Escritores por três mandatos. Seu livro mais recente é o romance “O livro de Rovana”.

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