terça-feira, 19 de novembro de 2013

As mães escolhidas

Ruth Guimarães

A trindade védica era composta de três pessoas: Brama, Vishnu e Siva, sendo o primeiro criador, o segundo conservador e o terceiro transformador. A santa sílaba primitiva, AUM, referia-se às três pessoas, uma letra para cada uma.

A segunda pessoa da Trindade, Vishnu, apareceu entre os homens cinco vezes. Foram estas as encarnações: Vamana, Parassurama, Rama, Críxena e Buda. No avatar particular de Críxena, Vishnu nasceu no undécimo dia da lua, do seio de uma virgem.

Ela era de linhagem real. Tinha a marcha graciosa como de um cisne que desliza. Seu corpo era revestido de um velo dourado e fino como a flor de lótus. Chamava-se Devanagüi. Numa noite em que mergulhara num sono profundo sonhou que se levantara do leito e fora para as margens do lago sagrado de Madaura, para fazer as abluções prescritas. Então cercou-a uma nuvem luminosa. Os seios seus estremeceram como os da virgem que se entrega ao esposo. Da terra onde ela tombou brotou um ramo de videira de ramos poderosos. Todos os homens deslumbrados vieram sentar-se à sua sombra. O mal, o ódio, a perfídia, os trabalhos, o sofrimento desapareceram da terra.

Houve outra mulher escolhida para ser mãe de Deus.

Nazaré era uma aldeia da Galiléia, situada entre o monte Tabor e o Monte Carmelo, na planície do Esdrelão. Casas pobres, de teto baixo. A terra que a rodeava seria boa, pois que a rodeavam completamente os vinhedos verde-claros. E notavam-se aqui e ali, as notas escuras dos olivais e das figueiras. A população era toda de artesãos.

Havia carpinteiros, caldeireiros, um fabricante de tendas, o curandeiro, o sacerdote. A tenda do ferreiro era sempre movimentada por estranhos, eis que a cidade ficava à margem de uma longa estrada, que ia de um lado para a Fenícia, percorrida pelos mercadores de tecidos, e do outro lado para a Samaria e para a Judéia. Jeshua bem Joseph era o filho mais velho do carpinteiro varão que se chamava José, da casa de Davi, casado com uma virgem cujo nome era Maria. E antes que a virgem conhecesse varão, apareceu o anjo Gabriel e entrando onde ela estava, saudou-a, dizendo: Salve Maria, cheia de graça, o Senhor está contigo, bendita és tu entre as mulheres. Conceberás no teu ventre e parirás um filho e lhe porás o nome de Jesus. Ele será chamado filho do Altíssimo e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi.

E então que disse Maria – que deveria andar pelos quinze anos –? Ela confirmou a sublime aquiescência:

Faça-se em mim segundo a Sua Vontade.

Depois disso, muitos sóis já se acenderam e se apagaram e a vida mudou.

Muito louvadas foram essas mães dos deuses. Chamaram-nas de excelsas, puríssimas, virgens ebúrneas, rosas místicas.

Hoje, apesar de toda a celebração e de um dia dedicado às mães, a qualidade delas não está sendo discutida especialmente. Basta ler os jornais. Lá estão as qualidades que, para falar caridosamente, são mais ou menos imencionáveis. O caso é que mãe é uma espécie em extinção. Duvidam? Experimentem sugerir a uma mulher, pobre ou rica, bonita ou feia, casada ou solteira, classe média A ou B ou C, intelectual ou ignorante, jovenzinha ou matrona, se quer outro filho, e ela dirá com veemência: Deus me livre!!!

Será que se distingue na rapidez da resposta, no timbre da voz, no tom como que apavorado, uma certa sugestão de esconjuro?

Afirmam as religiões que aí vem um novo Messias, pois que não há outra maneira de melhorar o mundo. De tudo já se experimentou um pouco.

O problema é encontrar a mãe excelsa e a mãe Santíssima.

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