quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Alternativa

Ruth Guimarães

Acudiu-me trazer a público o que entendo a respeito de SAÚDE. O que chamamos de Saúde, e que é apenas a negação dela, uma vez que está abandonada e está como está.

Creio ser muito egoísmo guardar para mim tal conhecimento, com tanta gente sofrendo nas filas do SUS e em outras filas.

Por efeito do mau exercício do poder, e por outras causas, a Saúde no Brasil está no ponto em que está, falha, ineficiente, com epidemias que já foram dominadas no passado e hoje voltam com a virulência das recaídas; e como temos recrudescidas epidemias como a dengue, doenças sociais, como a AIDS, e mais o amarelão, a maleita. E mais a droga generalizada com incidência maior para os moços, à qual não se consegue pôr cobro, por culpa sabei-me lá de que má vontade política.

E a pior das doenças que pode atacar um governo é a corrupção.

E não temos mais um Oswaldo Cruz que, a bem dizer sozinho, acabou com as epidemias.

Parafraseando o rei Roberto Carlos, eu vos proponho, povo sofrido do meu país, uma alternativa: que pegueis no rosário e rezeis ao santo encarregado dos problemas que vos afligem, que os há e muitos, cada santo designado para uma atividade diferente, para um problema diferente.

A Medicina Popular compreende duas tendências: a mágico-teológica e a empírico-científica. A primeira aceitando as causas sobrenaturais na origem e na evolução das doenças. A qual das duas devemos nos dirigir? À primeira, evidentemente. É mais barata. Correr para os santos é fácil, não tem hora, eles são de confiança. São médicos de paga ao nosso alcance. As promessas são razoáveis. Ir a pé até Aparecida do Norte. Passar um ano sem comer determinado quitute. Rezar de joelhos mil e quinhentas ave-marias, repartidas em todas as quintas-feiras, durante um ano. Vestir-se apenas de branco durante sete anos. E assim vai. 

São inúmeros os santos médicos

Santa Luzia é protetora dos olhos. Santa Ágata dos pulmões e vias respiratórias. São Brás protege contra engasgos e doenças da garganta. São Lázaro contra a lepra. Santa Sofia é invocada contra mal de azia. São Sebastião e São Roque contra a peste. Nossa Senhora do Bom Parto ajuda tanto no parto como na gestação. São Cosme e Damião curam as doenças das crianças. A paga é fazer, na sua festa, uma distribuição de doces para o povo. São Bento desvia de nós os bichos peçonhentos. Os últimos cobram preços mais módicos ainda. Para São Brás, quando um menino se engasga é bastante dizer:

“São Brás, São Brás,
Acode esse rapaz”

Para Santa Luzia a paga é recitar, com toda a devoção:

“Santa Luzia passou por aqui
com seu cavalinho 
comendo capim.”

São Gonçalo cura de reumatismo.

O coração de Jesus é padroeiro dos velhos. São Judas Tadeu resolve os casos urgentes, ou perdidos. São Miguel livra das tentações e dos maus espíritos. Nossa Senhora de Lourdes é protetora das moças, solteiras ou casadas. Santo Onofre interfere contra feitiçarias, mau olhado, maus espíritos. Santa Rita ajuda a desenlear negócios embrulhados. (Não se sabe se é por isso que todas as cidades do Vale do Paraíba têm uma igreja de Santa Rita, ou uma capelinha no bairro do mesmo nome, na periferia).

E ainda há mais, na hagiologia popular. Cachoeira tem a igreja de Santa Cabeça, que não só cura as doenças desse órgão, mas também concede inteligência, facilita os estudos, e comove aquele mestre sargentão, que usa dar notas baixas. E São José dos Campos tem a Santa Perna. Tudo isso sem contar os dois santos maiorais do Vale: São Benedito, dono das maiores festas do Vale inteiro, a dos pretos, de Guaratinguetá, num domingo seguinte à Páscoa e a de Aparecida, um domingo depois da festa de Guaratinguetá. E a Nossa Senhora que foi pescada, em imagem, no Rio Paraíba e a quem se atribui um número infindável de milagres. Uma senhora da Conceição, chamada Aparecida. Estes são os clínicos gerais. Nós chamaremos por eles em todas as questões a serem resolvidas.

Do modo como estamos, social e politicamente, e em todas as circunstâncias parece que devemos tentar a alternativa. O governo quer encampar os chamados SS, Senai, Sesc e outros, que vão indo tão bem, rezemos ao Senhor.

Os criminosos nos atacam nas ruas, e até dentro de nossas casas, rezemos ao Senhor.

O trânsito não tem jeito. Rezemos ao Senhor. O preço dos mantimentos está cada vez mais alto. Rezemos ao Senhor. Temos de aturar os serviços e desserviços do SUS. Rezemos ao Senhor. As estradas de rodagem, as estradas, os maus serviços, a Amazônia, a questão dos indignados, rezemos, rezemos, rezemos ao Senhor!
Imagem de Botelho Netto

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