segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Deixai vir a mim as criancinhas

Ruth Guimarães

Eis que, dada uma volta completa no carrossel da vida, estamos de novo às portas das festas de fim de ano, entre as quais se conta o Natal, festa inefável, que não digo seja da família Brasileira, nem que faça parte das nossas tradições. Pois que mais sustentada pelo comércio de que pelos nossos impulsos do coração, - mas indiscutivelmente nos traz sentimentos renovados de fraternidade. Eis-nos então penserosos completamente, dada a falta completa do vil metal, para providenciarmos o que convém e o que devemos à nossa posição. Como um presente irônico de Natal, e viva justiça e o amor, que pregava o Nazareno! saiu uma notícia nos jornais, avisando, isto é, advertindo, de que o magistério não teria abono, nem décimo terceiro, nem aumento. Evidentemente isto é reclamação, se o fosse passaríamos para o lado de lá desta página. É apenas verificação. E outra verificação que se impõe é a maneira de demonstrar amor e solidariedade. Já se arregimentam as associações e as casas de caridade. Então a mim me apraz meditar um pouco comigo mesmo. Debater. O que se faz, isto é, o que eu faço pela criança nessa hora de amor, de homenagem, Ao que disse: “deixai vir a mim as criancinhas!”

Naturalmente, em meio de muito taratatchim, taratimbum haverá uma hora feérica, A Hora. O pobre na fila, com o estômago dando horas, e as pernas bambas, e a cabeça quente ao sol, e mais provavelmente a chuva. Com vergonha de seus farrapos, se ai! por seu bem ele ainda não a tiver perdido. Exposto a olhares que o incomodam e se revestindo com uma couraça de cinismo ou de dissimulação. Haverá alguns muito poucos de trapinhos e orelhas esfregadas com sabão e água do rio. Os que precisam mais, e mais trabalham e não pedem esmolas e não correm atrás de espaventosos anúncios estarão melancolicamente em seus buracos, nos becos e nos cortiços, na sua lama e na sua desvalia. Mas mesmo a esses que se deu alguma coisa, quem os tira da sua lama e da sua desvalia? 

“Mas para o meu desencanto o que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou.
E cada qual no seu canto em cada canto uma dor.
Depois da banda passar cantando coisas de amor.”

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