segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Um desfile de Sete de Setembro em Suzano

José Botelho Netto

Manhã clara, de sol radioso, o ar fino e transparente semelhava manhãs deliciosamente lindas do meu Vale.

Na rua principal de Suzano o povo enfeita as calçadas com sua presença quente e animadora. É Sete de Setembro. Há intensa expectativa, bulício, movimento. Ainda não é a festa e já tudo respira festa: senhoras e senhores em trajes domingueiros, acompanhados de seus meninos de gravatinha Caubi Peixoto, compenetrados; os jovens nisseis aos grupos, empunhando máquinas fotográficas ; pobres famílias de lavradores, com seus garotos de face encardida, ralos cabelos de cor de poeira, e o mais novinho no colo da mãe, enrolado num velho pano muito lavado. No jardim, os moços formam rodas e falam e conversam num tom mais delicado e simples que habitualmente. Não discutem futebol nem televisão, evitam a gíria e os sorrisos são largos e cordiais. Parece que todo mundo pensa, com certa tristeza interior. Que terá que voltar, amanhã, para a companhia dos mesmos colegas na rua, no ônibus, na fábrica, na escola e encontrá-los transformados. Porque já não haverá mais festa e a Bondade os abandonará.

Num palanque, personagens autoritárias com expressão risonha e vibrante modelada no rosto, próprio de homens no afã de dominar. Belos tipos, talvez puros, dotados de uma forte disposição para atrair as vontades alheias e governá-las; ansiosos por descobrir na multidão, lá embaixo, sobre quem empregar a sadia e inesgotável capacidade de mandar.

Na rua larga, parada, à espera do desfile que iniciará a qualquer momento, o jipe guiado pela Irmã Catarina, passa numa volada em direção à Praça Expedicionários. Em frente ao Bar dos Artistas faz a curva sem diminuir a velocidade. Um pedaço de hábito que envolve a cabeça da freira escapa pela janela do jipe e balança ao vento como alegre bandeira.

Começa o desfile. Primeiro o Colégio Estadual, sóbrio, com a firmeza e a elegância de um preparo ginástico bem dirigido. Nos Grupos Escolares algumas crianças com fantasias pretensiosas querendo significar alguma coisa... Professores, muito sem ânimo talvez por causa do calor, vão, de paletó desabotoado e alguns mesmo sem gravata, acompanhando os jovens e orgulhosos estudantes que desfilam.

Onze horas. O calor aumenta. Evoluções das fanfarras em frente ao palanque. Um locutor descreve o desfile como se fosse um jogo de futebol ou corrida no hipódromo. Mais uns passos, mais umas palavras vãs, mais uns toques e o som dos tambores se perdem no ouro da luminosa manhã.

Nos olhos de alguém resplandeceu, por um momento ao menos, enchendo o coração de ternura pelo gigante adormecido e desamado, a imagem da Pátria?

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