sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Confianças com a verdade

Ruth Guimarães

Quando foi necessário representar o grito do Ipiranga, às margens do famoso regato, o pintor nos deu um herói a cavalo, de espada desembainhada, na mais pura das poses intrépidas. Prosseguindo na metáfora, foram postos na boca do príncipe ovante as palavras miraculosas: “Independência ou Morte!”

E sabe-se lá que nomes disse o nosso primeiro Pedro, indignado com o pai que, além de mandar nele quando estava aqui, ainda queria continuar mandando de longe. E outra: o nosso inefável primeiro Pedro ainda estava com uma danada dor de barriga.

Parece que os artistas plásticos brasileiros do século das luzes não tinham lá grande originalidade.

Sabemos que a monarquia nossa se assentava em três pilares: os grandes latifundiários, o Exército e a Igreja. Ora, a princesa Isabel assinou a abolição da escravatura, chamada a Lei Áurea, houve a Questão Militar, que todos conhecem, a Questão Religiosa, e lá se foi pelos ares a monarquia. Deodoro, na manhã de 15 de novembro, chegou ao quartel de Campo de Santana, a cavalo. A cavalo levou a tropa até o Arsenal da Marinha, sem berros e sem exibicionismo. Foi uma simples parada militar. O Exército se recolheu sem nenhum espetáculo. Quem declarou fundada a República foi José do Patrocínio, que apareceu com alguns amigos (correligionários, diríamos hoje) e berrou a sua proclamação. Rui Barbosa redigiu o artigo 1o. Na questão visual isso foi tudo.

Agora vejam a representação! Está aí nos livros escolares, onde devia estar a verdade: o velho Marechal Deodoro, num árdego cavalo branco, uma das mãos na rédea, e a outra erguida, proclamando a República.

E assim se escreve a nossa História, mestra da vida.

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