Ruth Guimarães
A natureza não dá saltos e nem cria. Ela vai seguindo as mesmas vias há milhões de anos. As estruturas vitais estão construídas e fechadas.
Tudo tem seu tempo e a sua vez. Há o tempo de rir e o tempo de chorar, o tempo de semear e o tempo de colher, o tempo de lastimar e o tempo do regozijo, o tempo de enfolhar,o tempo de frutificar.
Para os humanos, há o tempo de aprender,o tempo de amar,o tempo de morrer.
Dizia Bocage nos seus últimos momentos: Saiba morrer o que viver não soube. Como poesia, muito bonito e note-se que ele exprime apenas um desejo e não uma realidade. O certo é que quem não sabe viver, não saberá morrer. É na maturidade que quando a pessoa está mais livre das peias profissionais e da sustentação do lar sobra o tempo de viver.
Decorre o tempo, vira a roda de Karma e volta a sofrida humanidade aos mesmos velhos sonhos impossíveis. Um deles é escapar da morte.
Notificaram os jornais o advento de novas experiências para ludibriar a morte, a indesejada das gentes. Trata-se do congelamento de doentes terminais, incuráveis e eles terão a vida em suspenso por um período longo.
Quando forem chamados novamente à vida, transcorrido o período pré-determinado, a ciência talvez tenha conseguido a cura para todos os males.
A Primeira Grande Guerra trouxe a descoberta das sulfonas e a cura de doenças não somente mortais, mas horripilantes, como a lepra. Com a Segunda Grande Guerra apareceu a penicilina e dai pra frente não era para ninguém mais morrer de pneumonia e nem era para sofrer de enfermidades infectocontagiosas, especialmente as venéreas. Com mais uma guerra mundial por ai é possível que os cientistas consigam a cura para o câncer, da AIDS, quem sabe até da calvície e da erisipela.
Por enquanto a única instituição verdadeiramente democrática é a morte.
A morte não escolhe, dizia minha avó sempre que o grande sino da matriz, blen-den-den,dão-dão-dão, bronzinava por algum ricaço da paróquia.
Chegou o dia, não tem esse , nem aquele, tem que ir.
Eu achava lindo aquele modo de por as coisas. Era categórico. Era duro. Era justo. Morreu Mané Fortes. Ah! Não tem esse nem aquele. Morreu Monsenhor Machado, Não tem esse nem aquele. Morreu Olavo Bilac ( não tem esse... ) Morreu o Papa ( nem aquele... ).
Foi espantoso o progresso da medicina clinica do fim do século xx.
Seu objetivo era lutar contra as doença e vencê-la e aliviar o sofrimento, o que, dadas as circunstâncias, está conseguindo bastante bem.
Outro objetivo é dilatar o tempo de vida e morte e muito do comportamento da idade provecta.
Entretanto é na maturidade, a idade entre cinquenta e sessenta e cinco anos que assenta o equilíbrio do mundo e perspectiva da felicidade e da saúde na velhice.
A maturidade é um estagio preparatório.
Nesse campo de flores são preparados os frutos finais da grande messe da vida. É na maturidade que podemos resolver o nosso destino e lançar os dados para a aventura do grande final da qual não podemos realmente fugir.
Existem hoje inúmeros movimentos de integração dos idosos.
Realmente ninguém pode influir, modificar, trazer esperança modificação alegria ou tristeza. De qualquer maneira eles já estão de saída..
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