quarta-feira, 31 de julho de 2013

Coluna de Ruth - por Agostinho Ramos

Cachoeira Paulista, “1ª Segunda Feira” de Agosto de 1967.

Ruth

Sua assinatura, na coluna que lhe pertence, em “A Folha de São Paulo”, desperta interesse que se generaliza por aí afora, principalmente, entre seus conterrâneos.
Todos consideram sua capacidade de observar e captar e na retransmissão você envolve literatura, filosofia, história, folclore e ágora descamba para um novo setor – a feitiçaria.
Quando da publicação de seu livro – “Água Funda” – um deputado amigo disse-me: esta Ruth é senhora de um estilo novo.
Raquel de Queiroz, há tempo, n “O Cruzeiro”, citou seu nome como escritora de altos méritos.
Se me não falha a memória, quando Ungaretti esteve em São Paulo, da outra vez, você o entrevistou. A seguir, tivemos de sua lavra “Os Filhos do Medo”. Em “Mulheres Célebres” você traça o perfil de Penélope, a fiel esposa de Ulisses, com maestria invulgar.
Alfonse Daudet, na sua tradução, se incorpora a linhagem de Maupassant, Wild e Eça, empalmadores do conto universal.
No Suplemento Literário de “O Estado” na “Folha” no “O Cruzeiro” na “Manchete”, você sempre rutilando, como audaz peregrina das letras – vale dizer – da estética e da beleza.
Agora, sua velha tendência – ser feiticeira.
Eu gostei, porque, também, não estou fora dessa faixa.
“Qudo natura dat, Nemo negare potest” (esse latim é do livro de Artur Rezende).
A feiticeira, a que você se referiu, pode ser autóctone na África, mas é realmente brasileira: é o feitiço, “a coisa feita”, a mandinga, a pemba, a quiamba, o picuman, a unha de gavião (unharigaviô), o pica-pau chan-chan,m a cobra “corá”, a fruita da samambaia, São Cipriano, São Benedito.
Nada de macumba estilizada, com Madruga, Josefina Baker, Exú, o “pererê” a “capora”, o fumo “pixuá”, o “Pedro Botelho” (cuidado com o nome).
Os paradoxos existem e os extremos se chocam.
É de se imaginar a Ruth (minha ex-aluna) professora de ginásio, escritora, participante de coquetéis – desejar agora montar uma tenda num fundo de grota, casa de sapé, oratório enfeitado – quebrar a pena, empunhar um ramo de losna, ou de alecrim cheiroso, benzer os enfermos, fazer “meisinha”, invocar São Cipriano, arranjar casamento, preparar um “despacho” com um galo preto depenado e a defumar com guiné ou ramo de arruda as senhoras que esperam  “délivrance”...
Estas cousas, “não se aprende Senhor na fantasia – sonhando, imaginando ou estudando, senão vendo, tratando e pelejando”.

Seu sempre amigo e admirador

Agostinho Ramos

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