quinta-feira, 9 de maio de 2013

Entrevista Revista Valeparaibano

1) Você foi jornalista numa época em que poucas mulheres trabalhavam nesta área, e foi a primeira escritora brasileira negra a ganhar projeção nacional com a publicação de “Água Funda” em 1946. Você se considera uma precursora? 

Para falar a verdade tive pouco tempo para desperdiçar. Tanto para cuidar de mim como mulher socialmente, como para sobreviver por inteiro como pessoa humana, numa situação em que ninguém sabia de mim. Precursora de que? Como eu existem milhares. 

2) Porque você resolveu deixar uma bem sucedida carreira de jornalista para ser professora? E o que te levou a escrever contos folclóricos infantis? 

Quem te falou que a carreira de jornalista existe? Ou que existia? Ou que as mulheres existiam? 

Deixei o jornalismo para ser professora porque ia criar um bando de filhos e criar filhos é mais fácil para os professores. Sem viagens e com mais tempo em casa. 

Eu vivo o folclore. Sou caipira. Sou brasileira com uma coexistência familiar com analfabetos. Nasci e cresci em fazenda e cidades pequenas. Ouço historias desde sempre. Sou contadeira desde sempre. Aprendi a lida, a colher, a pesquisar com Rossini Tavares de Lima, Alceu Maynard Araújo, Mário de Andrade. Fui aluna de sociologia , em pós-graduação do Bastidinho, como chamávamos o francês Roger Bastide, na USP. Mas o mais importante é que sou mesmo caipira, isto é, folclórica. E sou do Vale. E li os grandes folcloristas todos. 

Realmente não escrevo para crianças, mas o que escrevo elas podem ler com proveito. 

3) De onde vem sua paixão pelo folclore brasileiro e, mais especificamente, pelo folclore do Vale do Paraíba? 

Eu sou de Cachoeira Paulista, do fundão do Vale. 

4) Você traduziu vários livros do francês Balzac e do russo Dostoievski. Onde você aprendeu esses idiomas? De onde vem seu interesse por eles? 

Sou tão velha que alcancei a hegemonia francesa e o francês obrigatório nas escolas. Também passei algumas vezes pela Aliança Francesa. 

Russo? Quem falou em russo? Eu não sei russo, não. Traduzi em 2ª mão do francês. 

5) Você pode nos falar de seus projetos? Está escrevendo um novo livro? 

Estou vivendo. Sai este ano uma tradução minha do latim, do Asno de Ouro, do Apuleio. Essa é tradução direta. Escrevo devagar um romance. Está no prelo uma coletânea de historias. Reedição de Água Funda, meu primeiro livro. 

6) A Bienal do Livro de São Paulo vai começar no dia 12 de agosto. Quais são, em sua opinião, os grandes escritores brasileiros e estrangeiros do momento? 

Leio de tudo, sou Gargantua. Grandes no momento, entre outros, Mia Couto e Saramago. 

7) Que livros você levaria para uma ilha deserta? 

Eu jamais iria para uma ilha deserta. 

Gosto de gente. 

Se fosse não levaria livros. Simbolismo à parte, levaria faca, martelo, serrote, um cobertor e uma caixa de fósforos. 

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