quarta-feira, 8 de maio de 2013

Comunicação

Ruth Guimarães 

O domínio e o uso conveniente das palavras não se prendem tão só à significação que vem no dicionário , mas do que a adere a cada palavra de força emotiva, acumulada pelo uso contínuo e pelos sentimentos que carregam os nomes. 

Assim, na obra literária se encontra, por exemplo em Machado de Assis, em Dom Quixote, que a palavra não diz o que significa, mas exatamente o contrário, pela ironia. Para isso, no entanto, é preciso que se conheça o vocabulário nas mais íntimas implicações. Que se conheça a palavra no significado próprio e como pode ser empregada em múltiplas variações. Pois que todas as palavras são multisignificativas. Mesmo as mais concretas, as mais singelas, as mais antigas, como água e pão. Mister é que se conheça cada nome com os atavios que lhe são próprios, como ressoa no palácio e como vibra num descampado. Como fica no verso e como se altera, sutilmente, na prosa. 

O que fazer para conseguir o domínio das palavras? 

Com quem aprender? 

O caminho é ir aos mestres. 

Ler os mestres procurando, nas sutilezas da construção, o pensamento. Ir verificando como a palavra é nuançada, cambiante, flexível, móbil, flutuante, fugidia, e como imita onda, o vento, o pensamento, difícil de captar e fixar, mas exprimindo enfim o que de mais vago e caprichoso existe, que é a alma humana. 

A leitura dos mestres é a primeira providência a ser tomada, leitura preferivelmente em voz alta, com anotações metódicas e sistematizadas, para disciplinar o pensamento e fixar o ritmo, a construção, a significação. 

E como mestres digo os criadores das obras-primas da literatura no mundo, não só no Brasil. Que as boas traduções sejam aceitas, manuseadas, lidas e amadas. Variações da literatura podem ser tentadas, por exemplo, se assistirmos a boas peças de teatro, se ouvirmos os conferencistas que têm o que dizer, se pusermos para tocar no aparelho de som, no MP3, no computador, usando a tecnologia a nosso favor, os CDs de declamadores, por meio dos quais surpreenderemos as variadas maneiras de dizer a mesma coisa, atentando nos recursos de ênfase e entonação. 

Pedagogicamente podemos tomar providências mais simples! a boa leitura em classe, enfatizando o valor da pontuação, quer fisiológica, simples pausa para respiração, quer afetiva, com a voz marcando o sentimento. A leitura dramatizada, mais viva e movimentada. A leitura silenciosa, com pesquisas no texto. A sinonímia, com o uso rápido e intensivo do dicionário. A procura de imagens no texto. 

Também se pode propor a resolução de problemas lingüísticos, correção de frases e complementação de textos truncados. As palavras cruzadas, quando bem dosadas, trazem um acréscimo valioso de palavras e a fixação de símbolo. As charadas ajudam na fixação do vocabulário e na vivacidade do raciocínio. Os jogos vocabulares prendem a atenção e desenvolvem, treinando a observação, a síntese, o bom emprego de palavras. 

Os torneios oratórios, usados, e mal usados, diga-se, em comícios e festas, seriam oportunidades para o enriquecimento vocabular. Sociedades oratórias têm se fundado, no entanto com bem pouca procura. Os bons pregadores são adorados pelo povo, e as festas religiosas são ocasiões preciosas de aprendizado de religião e da língua. 

A leitura diária dos jornais e a TV nada trazem posto que são veículos viciados da comunicação, do ponto de vista lingüístico. 

Quando as pessoas falam a mesma língua, isto é, comunicam em idéias, têm um vocabulário preciso e sabem se exprimir, reduzem-se os mal-entendidos. Atrevo-me a dizer que se no Brasil não há guerras e aqui as revoluções se fazem de maneira fraudulenta (?) sem sangue nem heróis da caserna, porque falamos, de norte a sul, a mesma língua. É verdade que muito mal se fala, mas a fala não se dialetou, mesmo se corremos o risco de queimar a língua com o vatapá “quente” da baiana ou de cair na armadilha de uma piada carioca, não há problema de entendimento que durem mais que um minuto.

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