segunda-feira, 6 de maio de 2013

Cachaça Moça-branca - parte 2

Ruth Guimarães 

Urge começar e continuar uma intensiva educação do brasileiro. Que coisa, que atraso, que indiferença, que descaso nos segura? Que horror nos paralisa? Que futuro, que norte nos espera? O nada nos espera. 

Em lugar de restringir o uso da bebida, amplia-se facilitando o uso, barateando as doses, tornando o uso apetecível e prazeroso. E abaixando o preço. E tornando sociavelmente valioso o seu consumo em botecos e lanchonetes. E inventando nomes e batidas sugestivos. E facilitando a camaradagem entre alegres desconhecidos. E facilitando o esquecimento das agruras da vida. De cada um. Dentro de casa todos parecem aceitar a pinga esse conviva insinuante. Até as crianças bebem, o que não parece espantar, não revolta ninguém e aí estará seguramente o início de muitos vícios, o vício, a embriaguês destruidora de lares e de mentes. 

A reprovação social é mínima. A atitude de amigos e conhecidos é benevolente. Se alguém sofre são mulher e filhos. Os outros se limitam a um riso benévolo. E este, senhores, é um caso grave. O que pode ser feito? 

A maioria se limita a um riso torto. “Pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Mas a benevolência pelo torto se revela nos inúmeros nomes, alguns carinhosos, alguns exprimindo uma tolerância um tanto safada. Uma piscadela, um erguer de ombros. Eu não tenho nada com isso. Ou a criminosa atitude dos egoístas e dos coniventes, dos cúmplices. 

Não é necessário repetir os horrores a que chegam as decorrências do alcoolismo e da frequência a que se chega em danos materiais, espirituais, morais. Nos jornais se lê: “O futuro secretário da Saúde do governo Geraldo Alckmin, Giovanni Guido Cerri, disse que pretende fazer do combate ao abuso do álcool uma prioridade de sua gestão. não se trata de criar uma lei seca, mas de mostrar o problema à sociedade e liderar uma reação o que exigiria ações educativas. É por causa da educação que hoje jovens pressionam os pais a parar de fumar. Houve uma mudança de pensamento que ainda não ocorreu em relação ao álcool.” 

E enquanto ninguém toma providências, vamos rezando a oração da pinga: 

Santa cana que estais na venda, purificado seja o vosso caldo, venha a nós o vosso líquido, pra ser bebido à nossa vontade, assim no boteco como no bar. Muitas garrafas nos daí hoje, perdoai os dia em que bebemos menos, assim como perdoamos o mal que nos fazei. Não nos deixei cair de mamados, mas livrai-nos de ir em cana. Amém. 

Afinal, indiscutível é a santidade e o poder da cachaça, de acordo com a adivinhação. 

O que pode mais do que Deus? É a cachaça, porque Deus dá o juízo e a cachaça tira.

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