Ruth Guimarães
Com a palavra eu canto as magnificências de minha terra, a bondade do Deus celestial, a beleza dos homens e das mulheres, a caridade das almas bem formadas. Com a palavra rezo a Deus nas alturas. Com a palavra eu me comunico perfeitamente com os meus semelhantes, a quem levo as louvam-se os bons e exerce-se a fraternidade. Com a palavra o homem participa do coro dos anjos.
A língua, portanto, é a melhor e mais excelsa de todas as coisas humanas.
Mas, de todos os armamentos, de todos os venenos, de todos os recursos de destruição, nenhum é tão mortífero quanto a palavra. Ela, que pode ser consolada, blandiciosa, rica de ensinamento, pode também ser um martírio e até matar. Com ela destroem-se reputação, podem-se tecer ardis, estimular a traição, simular, distorcer, alternar, mentir, caluniar...
A língua, portanto, é a piro e mais maligna de todas as coisas humanas.
Eis aí o que define o autor literário: uma pessoa que serve da palavra e dela é serva, para expressar conhecimentos, informações, sentimentos. O escritor é quem usa a palavra, veículo da língua, para integrar-se ao mundo e integrar o mundo aos seus leitores. A temática é secundaria. O médico ou religioso ou o advogado que produz literatura é, essencialmente,, um artífice da palavra. Daí, no fundamento conceitual, é escritor, embora profissionalmente exerça outra atividade, sem o que não subsistiria no mundo da mais-valia.
Faltava ao escritor, rigorosamente, um ponto de encontro para o exercício da dinâmica de equilíbrio entre os propósitos da escritura. Faltava, até o fim do séc. XIX, quando Lúcio de Mendonça tomou a iniciativa de reunir os escritores que se agregavam em torno da Revista Brasileira de José Veríssimo. Da sessão de instalação da Academia Brasileira de Letras, no dia 15 de dezembro de 1896, participaram: Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Araripe Júnior, Artur Azevedo, Carlos de Laet, Coelho Neto, Filinto de Almeida, Garcia redondo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Inglês de Sousa, Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, José Veríssimo, Lúcio de Mendonça, Luis Murat, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Pereira da Silva, Rodrigo Otávio, Rui Barbosa, Silva Ramos, Silvio Romeno, Teixeira de Melo, Urbano Duarte, Valentim Magalhães, Visconde de Taunay.
Machado de Assis, primeiro presidente acalmado da Academia Brasileira de Letras, defendia para o Brasil o modelo da Academia Francesa de Letras. Era necessário completar, então, 40 membros. Foram eleitos: Aluísio Azevedo, Barão de Loreto, Clóvis Beviláqua, Domício da Gama, Eduardo Prado, Luis Guimarães Júnior, Magalhães de Azeredo, Oliveira Lima, Raimundo Correia e Salvador de Mendonça.
São Paulo seguiria o exemplo da capital federal em 27 de novembro de 1909, pelas mãos do carioca Joaquim José de Carvalho, médico e ensaístas. O primeiro presidente da Academia Paulistas de Letras foi Brasílio Machado.
Hoje, um século inteiro depois, a Academia Paulista mantém o seu papel de cenáculo das letras paulistas e nacionais. Reúne, na medida do que lhe permite as circunstâncias, o melhor da literatura paulista. Seus membros são os porta-vozes da sociedade literária paulista e vivem, da, labutam pela e postulam a comunicação. São pessoas que festejam a palavra.
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