terça-feira, 30 de abril de 2013

Tanto faz

Ruth Guimarães 

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Caboclo tinha que passar numa dessas pontes de roça, constantes de um pau roliço, espichado de lado a lado de um ribeirão bastante fundo para o afogar. Cogitou logo de saber quais as suas probabilidades de travessia. O pau, além de roliço, era limoso e escorregadio. Só com auxílio de algum poder sobrenatural. “Se eu chamo Deus, vem o Diabo e me empurra. Se chamo o Diabo, Deus pode não gostar.” 

Foi passando devagarinho, braços abertos, em equilíbrio, um pé na frente do outro, e murmurando a cada passada: Deus é bom, mas o Diabo não é ruim... até atravessar. Quando se pilhou do outro lado da perigosa armadilha, gritou: Que Deus!? Que Diabo?! Tão bom é um como o outro. 

Quem não conhece esse tipo de caipira prevenido, que só atravessa ponte com Deus adiante e o Diabo atrás? 

Nós, eleitores, guardiões da democracia, estamos sem saber em quem votar, pois tanto vale um como o outro e o discurso é igual, isto é: igual a nada. E não somos somente nós, o poviléu, a ralé, o que comanda o grosso do resultado das urnas, que está desarvorado e inquieto. 

O banqueiro Olavo Setúbal, presidente da Holding, que dirige o banco Itaú, em entrevista para os jornais, declarou que Lula e Alckmin são a mesma coisa. “Os dois são conservadores.” 

Farinha do mesmo saco, diríamos nós, o povão. 

Fernando Gabeira declarou, por sua vez, que não sabe em quem votar. São palavras suas: Os candidatos não falam do que interessa. Ou eu vivo fora do tempo, ou eles vivem.” 

Em suma: vamos gastar milhões (da reforma do ensino, da melhoria da segurança, da panela do pobre) pra ficar tudo no mesmo. Pra trocar seis por meia dúzia. 

Alguns, em desespero de causa, dizem que vão votar em branco, outros que vão achincalhar o voto, em represália, votando sem questionamento e sem escolha, porque são obrigados a votar. Obrigados não. Temos esse direito. E agora não sabemos o que fazer com ele. 

Um voto de protesto foi em tempos, quando se escolheu para candidato do desengano popular, um bicho do Jardim Zoológico de São Paulo: o rinoceronte Cacareco. O bicharoco teve milhares de votos, com o que nada se resolveu. 

Numa das cidades do Vale do Paraíba foi escolhido para protesto o mais risível dos candidatos a vereador, um pobre gari, e nisso se revelou a falta de educação, de misericórdia, de solidariedade e de respeito do povo, nada mais. O gari ganhou a eleição e os munícipes tiveram que agüentar por quatro anos um vereador mais ignaro do que os outros, por quatro anos. 

A alternativa Heloísa Helena assusta um pouco os homens. Já ouvi de um deles: Essa mulher é perigosa. Ela tem umas idéias!! E não tem papas na língua! Para mais, a mídia que nós temos é muito machista. 

Se a mulherada votasse com espírito de corporação, a senadora estava eleita. Mas mulher não vota em mulher. Só em bonitão, como o Collor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário