terça-feira, 30 de abril de 2013

Retrato do brasileiro

Ruth Guimarães 

O conto A onça e o coelho, do populário vale-paraibano, isso é vale do rio Paraíba do Sul, entre São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, é conhecido em todo o Brasil e embora os personagens mudem. Realmente muda a comparsaria, mas as linhas essenciais da historia continuam as mesmas, sobrevivendo à característica principal de “a esperteza vencer sempre a força bruta”: A rã e o elefante, em Luanda- coleta de Chatelain: A tartaruga e o elefante, em Serra Leoa, entre os iorubas – recolhido por A. Ellis: O Coelho e o Tigre, em Costa Rica- Coleta de Carmem Lira. 

Deoscordes M. dos Santos, em conto de Nagô, menciona uma variante. Silvio Romero informa do cagado e o teiú, que contendem por causa da filha da onça, Luis da Câmara Cascudo informa que conhece uma variante, cujos personagens são a onça e o macaco, a parte pior cabendo a onça. 

Rabbit rides a Fox a-courting é o modelo 72 de Aarne Thompson, coletada entre os negros americanos do norte. Neste conto, o coelho toma parte num cortejo, cavalgando a raposa. Tema, alias, explorado por Walt Disney de um conto infantil corrente na região algodoeira do sul dos Estados Unidos (Alabama, Geórgia, Carolina do Sul e do Norte), levado ao cinema com o titulo Song of the south with uncle Remus and his tales of Brer rabbit, com base no livro de mesmo nome, de Joel Chandler Harris. 

Testemunha da origem africana desse conto há uma extensa bibliografia de coleta entre os negros da África e da Américas, da qual pequena parte foi citada acima. Por outro lado, é possível que tenha havido adaptação e uma africanização de termas universais captados do mundo moçarabe, através da cultura mulçumana. 

Da pesquisa feita por Wortington Parsons entre portugueses procedentes de Cabo Verde (emigrados para os Estados Unidos) constam diversos contos com esse motivo: o bicho que faz o outro de montaria, acrescido do casamento e do desejo que o animal demonstra de fazer bonito diante da noiva. 

Apesar de que o lobo é um animal que, amiúde, freqüenta os contos africanos, esse pormenor não é conclusivo na questão da origem dos contos. A colônia portuguesa poderia ter conservado as suas próprias tradições européias em Cabo Verde ou na America, ou talvez te-las, involuntariamente, contaminado com a vivencia africano. Tudo é possível. 

O conto que mais se aproxima do nosso é assim: o sobrinho do lobo foi à vila para conhecer a futura tia e lhe disse que o tio não era homem para ela. ”Para ter prova, virei á vila montado nele”, propõe. 

Outras histórias são complicadas, enriquecidas de outros temas em adição, sempre com estes personagens: o lobo e o sobrinho esperto. 

Héli Chatelain, excelente folclorista, fez pesquisas entre o povo de Cabo Verde. Sem distinção étnica ou social, ou econômica. O critério é vamos dizer geográfico, cobrindo o povo residente em geral. 

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