quarta-feira, 24 de abril de 2013

Pobreza

Ruth Guimarães 

O pobre é importante porque trabalha. Tem dignidade porque trabalha. Cresce porque trabalha. Demos de tirar-lhe tudo isso. E dá-lhe obras assistenciais. E dá-lhe esmolas. E dá-lhe o ser inútil, para si e para os demais. Dá-lhe o não ser. E então o povo não faz, não pensa, não quer. 

Deus, o que estamos fazendo com a tua obra! 

Estamos cansados de saber que há mais empregos que possíveis empregados. Que não há bastante gente capaz para impulsionar a barca da coisa pública. Que nossa deficiência é governamental. Que não sabemos investir na área certa. Que as nossas prioridades estão jogadas pras cobras. Que não temos nem teremos educação nem saúde. Que pedimos trabalho, cidadania, dignidade e nos dão PAC e bolsa família. 

Precisamos de boa formação e segurança e nos dão o massacre dos professores e dos policiais. 

Este país tiene gobierno? 

E a essa juventude que pede ensino, que necessita de ensino, dão-lhe esmolas. 

Dão-lhe a progressão continuada sem capacitar o magistério. Proíbem-no de trabalhar antes dos 16, quando então já estará nas mãos do traficante. As intenções estão piorando. Pois não é que queremos encampar SS, às únicas instituições que preparam veramente para o trabalho? Para continuar a excelente obra começada esta tierra tiene gobierno 

A intenção não é acabar com a pobreza é acabar com o pobre, a intenção é reinaugurar a escravidão e ser dono do trabalhador tutelado até na hora do voto. 

Entonces eu sou contra. 

O pobre é mais necessário do que o rico. É ele que faz. E na maior parte das vezes é o que pensa. A maioria dos filósofos era pobre. Que fizeram os cresos de que temos notícia? O que cozinha, o que capina, o que dirige os ônibus e os três. E os pilotos. O que varre e o que lava. O que planta e o que colhe. O que constrói? O que vigia? O que costura. O que dança nas ruas, o que lota as arquibancadas, o palhaço e o malabarista. Restas? 

O que tece. O que limpa. O que escuta. O que faz. O que escolhe. O que espera. O que ajuda. O companheiro. Com o pobre se conta, se vive, se descansa, se desabafa, se alegra. 

Acabar com a pobreza como quer um infalível Presidente não dá. Vamos. Além, esfregão de casas ricas e ariador de panela. 

Não acaba com a pobreza, mas acaba com o pobre. É o rico que precisa do pobre, não o contrário. Poder. Mas de que lado está o poder.

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