Ruth Guimarães
Dois fazendeirões, em terras contíguas, tinham domínios limítrofes, justamente nas divisas entre o estado de Minas e o estado de São Paulo. Todos sabem que o clima do estado de Minas é de se confiar, ao passo que o de São Paulo, além de frio e úmido, é instável. Os fazendeiros instalavam-se nas varandas e conversavam sobre a colheita, o tempo, a família, o colégio das crianças, as vacas leiteiras, tudo numa boa, o paulista e o mineiro, ora na casa de um, ora na casa do outro.
Vidinha corriqueira, sem altos nem baixos, até que o destino interveio. Houve uma revisão nas divisas, o limite natural foi o ribeirão que passava por trás da fazenda do mineiro e, do dia pra noite, ele se viu paulista, tendo mudado para o estado de São Paulo, usando o cômodo processo de ficar no mesmo lugar. Mudaria a paisagem ou mudei eu? Nem uma nem outra coisa. As conversas continuaram de varanda pra varanda. Seis meses depois o compadre paulista perguntou em tom de brincadeira ao outro, recém-chegado para o mesmo espaço de antes.
- Como é compadre? Está gostando de ser paulista?
E o mineiro, descansado:
- Compadre, está tudo bem pra mim. Só estranhei um pouco a mudança de clima.
Isto me lembra duas cidades dos estados de São Paulo e Rio: Bananal e Parati.
Bananal fica no fundo do Vale, bem no fundo, escorregando para o Rio de Janeiro. No sentido figurado e no literal. Dizem até que um plebiscito daria como resultado um sim firme dos habitantes se fosse do interesse da cidade passar para o Estado do Rio. Leiam as notícias que saem nos jornais sobre a má conservação das estradas terríveis de acesso à cidade.
O município e a cidade se sentem abandonados. As estradas vicinais estão esburacadas e o asfalto tem mais ondulações do que as ondas do mar. As pontes estão cai-não cai, todos os munícipes se queixam de tudo e quanto querem e quando precisam vão buscar em Barra Mansa, que é estado do Rio.
Criança que chora tem razão. Cidade que grita também tem. Não podemos esquecer que Bananal foi aquela cidade que avalizou um empréstimo para o Brasil nos seus dias áureos. Agora lá está, melancolicamente, Jerusalém chorando sobre suas ruínas.
O contato fraterno e emocional, comercial e econômico de Bananal é com o Rio de Janeiro. Moça de Bananal namora o fluente papa-goiaba, ali de Barra Mansa. O comércio de Barra é que atende as necessidades bananalenses.
Essa luta se repete com a cidade de Parati que, abandonada pelo Rio de Janeiro quer vir a pertencer a São Paulo.
Aí estão as populações mal satisfeitas: Vamos mudar para São Paulo. Vamos mudar para o Rio de Janeiro. Como na conhecida piada, o que vão estranhar principalmente será o clima. O resto ficará como está.
Lá como aqui.
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