segunda-feira, 29 de abril de 2013

Ora, direis...

Ruth Guimarães 

Pois estamos em pleno reinado da ciência, a eletricidade às nossas ordens, as botas de sete léguas, domando a distância, o fogo como humilde escravo, fácil de carregar no bolso, a fala e o canto a ouvir-se a milhares de quilômetros. O céu invadido, não com belas palavras, como no tempo de Moisés, de Abrão, de Confúcio. Lá puseram os humanos seus anjos e seus santos. Para lá foi o Pai, e foram o Filho e o Espírito Santo. E a Mãe Santíssima, e as Onze mil Virgens, e o Setestrelo. E as almas santas benditas. Mas pra lá mesmo, interpelados anjos e santos e almas boas, ninguém respondia. 

E então o homem, farto de sonhar e imaginar, resolveu “vamos visitar o céu que jamais nos responde”. E foram à lua, e levaram além de gente a cadela Laika, para testemunha. E não encontraram nada lá. Nem a cadela farejou a menor alma penada, ou santo ou deus, ou humano. Nada. Não havia nada na lua. Nem água. Não havia ninguém. Nem São Jorge. Então para que suplicávamos, para quem? É verdade que não tínhamos resposta. Se na lua nada havia, o que haveria no céu? E aqueles todos que tinham cruzado a porta estreita, sem notícia, em silêncio, onde estavam? Que faziam? Na lua ninguém. No céu, haveria alguém? Por que sonhamos tanto? Deus, oh! Deus onde estás que não respondes? Então a humanidade, entregue a si mesma, sem ajutório nem do sol, nem da lua, abandonou a idéia de subir ao céu com exceção daqueles que acompanhavam as procissões, e batiam no peito, e tinham fé e esperança e praticavam uma religião exasperada, cheia de sobressaltos e exigências. Deus, oh! Deus onde estás que não respondes? 

E então entregue a si mesma, a humanidade voltou à adoração do céu, sonhadora, apaixonada, carismática, supersticiosa. O céu foi entregue mais uma vez aos santos, aos enamorados e aos poetas. Como sempre. Por todos os séculos dos séculos. E os velhos sábios barbudos, de cócoras, olhos congestionados espiam através da imensidão azul, em busca de uma resposta. E os crédulos e os crentes os seguiram. 

Mas eis que de repente, não mais que de repente, alguma coisa de espantoso aconteceu. Esse céu, esses astros, essas estrelas, o Pai, São Jorge, São Pedro, todos que haviam se calado ao longo dos séculos, calados continuavam. Mas alguns astros ou estrelas piscaram para os cientistas pesquisadores. Piscaram para os pesquisadores encabulados. 

Ora, dirão – piscar de estrelas? Certo perdeste o senso... As estrelas piscam, porque é do seu feitio... E eu vos direi, no entanto, que os nossos cientistas sabem o que fazem. 

Sabem o que fazem. 

Os cientistas foram taxativos. Não se trata do piscar inofensivo e casual das estrelas e dos demais astros. As estrelas estão piscando de propósito para nós, dão respostas sim ou não e buscam sustentar uma conversa. Não se trata nem de enamorados nem de sonhadores, mas de cientistas... 

Os deuses já nos mandaram recados, sussurraram na África do Sul, no Haiti, em São Luís do Paraitinga e agora piscam. Que quererão de nós os deuses?

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