Ruth Guimarães
Um agregado de fazenda contou isto: “A minha mãe brigava muito com meu pai. Na roça, a gente guardava água em barril, porque não havia encanamento dentro de casa, e, fora, era água do rio e de mina. Numa noite, a minha mãe sentiu sede e pediu ao meu pai para ir buscar água, que ela estava com muito medo de ir à cozinha. Ele se levantou e foi.
Dali a pouco, voltou porque - disse - não tinha encontrado água. Tinha olhado no barril e estava vazio.
Minha mãe começou a gritar, que era mentira dele, que não podia ser, que o que ele tinha era má vontade, e que ela ia lá buscar a água, que não devia ter pedido nada, para levar com aquela desconsideração. Pulou da cama e foi.
Pego uma caneca, achou água e veio voltando para o quarto, quando, no corredor, deu com um enorme peru, com as asas abertas, que se botou na direção dela. Minha mãe largou a caneca e voou para o quarto. Empurrou a porta, entrou como um furacão, meu pai perguntava, que foi? E a água? E ela não respondia nada. Tinha perdido a fala com o susto.
Nisto, meu pai escutou uma voz que pedia para eles não brigarem mais, que isso causava sofrimento a quem já tinha morrido e lhes queria muito bem. Contou que havia uma alma querendo separar os dois. Que tinha chegado antes dela. A alma perversa era o peru. A voz acrescentou que se eles continuassem a brigar, um poderia matar o outro.
- Quem está falando? - gritou meu pai apavorado.
- Sou a sua mãe que já morreu.
Depois disto não se escutou mais nada, minha mãe recuperou a voz para contar a carreira que levou do peru. Meu pai foi novamente para o corredor, mas não encontrou mais o peru. Daí para a frente, o relacionamento entre eles foi melhorando e eles não brigaram mais”.
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