Ruth Guimarães
Faz tempo que estou escrevendo a história do tio Darwin. Darwin Aimoré do Prado, na vida civil e profissional. Não se trata propriamente de uma biografia: quando nasceu, quando morreu, se formou médico pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em mil novecentos e nada, se era farmacêutico diplomado, doublé de fazendeiro. Trata-se também dessas coisas, mas não somente dessas coisas, e sim do homem que ele era, naturalmente muito misturado ao médico que sempre foi.

Não quero falar de caridade aqui, que o meu espaço é pequeno. Não quero falar da sua caridade, tão calada e discreta, que realmente a mão esquerda não sabia o que fazia a direita.
Com esta conversa toda, tinha até me esquecido porque comecei a falar de tio Darwin. É sobre essa questão da eutanásia.
Tenho visto muita gente brincar com a morte. Tenho visto muitos médicos brigando com a morte. Mas tio Darwin nunca vi nessas lides supérfluas e desesperadas.
E com isto aprendi.
Quando a injuriada das gentes vier, nas asas de umas batidas do coração a menos, ou de uma pneumonia, (a amiga dos terminais e dos crônicos), vamos desligar singelamente, sem lágrimas, sem pressa, os aparelhos.
Nós partiremos em paz.
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