Ruth Guimarães
O padre Giancarlo Michelini, italiano, fundou há dez anos em Formosa (Taiwan) uma missão, o Lan-yang Catholic Center, para ensinar atividades de lazer, canto, dança e formação profissional. Mestres chineses o ajudavam desenvolvendo as artes orientais, como esse extraordinário balé folclórico, há pouco em turnê pelo ocidente. Trata-se de uma estilização muito intelectualizada, com um guarda-roupa riquíssimo, meninas escolhidas, bem-feitas, formosas. As treze danças de que se constitui o espetáculo são apresentadas cada uma com trajes diferentes, todos de alto luxo. Abstraindo-se dessas exterioridades, cada coreografia traz ao espectador não-chinês cenas inesperadas dos costumes da Celeste Império, do seu folclore singular.
- Não visamos lucros – diz o Mestre Chinês – nem sequer para obras beneficentes. Nosso escopo é divulgar a cultura chinesa, cinco vezes milenar.
A base do Ballet Lan-Yang é um estudo profundo sobre as origens chinesas, para estilizar as suas manifestações mais genuínas. O resultado é esplêndido. Sem pensar em comparação, vimos com a mesma orientação o Berlioska, balé russo folclórico.
A graça da mulher chinesa é inimitável, tanto mais quando servida com um aprimoramento na dança, um controle corporal, e uma poesia de interpretação realmente emocionantes.
A história e a mitologia estão representadas no balé. Danças para comemorar o início da primavera. Os leões das montanhas. Um conto de amor.
O mestre acrescenta que o segundo objetivo da excursão do balé é possibilitar às suas jovens componentes o contato com o mundo ocidental. Elas cantam algumas canções em português, pronunciando de maneira clara as palavras da língua estranha.
- Para usar mesmo, - informa o Mestre – aprenderam duas palavras em português.
Esperamos, pensando em palavras como água, pão, dinheiro, bom dia, socorro, como vai.
- Quais são?
- Obrigada e tchau.
- !!!
Ao assistir a dança que estiliza evoluções populares festejando a entrada do Ano Novo, deparamos com uma coincidência curiosa. As figuras mascaradas, vestidas com espalhafato, dando saltos e fazendo piruetas, batem com os nossos palhaços que, justamente na mesma ocasião, integram as Folias de Reis. Claro. No balé chinês, isto é, no folclore chinês há outro requinte, outra leveza, mas os pontos de contato dão o que pensar a respeito da teoria da geração espontânea do fato folclórico, sem que necessariamente tenhamos que buscar as origens de tudo quanto temos, na Europa ou no Oriente.
Foto de Botelho Netto |
Na falta de justificação histórico-geográfica de uma aproximação sino-brasileira, ou de uma possível influência, essa similaridade parece justificar a teoria dos evolucionistas, cujo primeiro postulado, (de Lewis Morgan) era: “A história da raça humana é una na origem, una na experiência, una no progresso”. Ou seja, haverá uma fonte independente de cada cultura, uma evolução autônoma dos povos, através dos fatais estágios, de selvageria, barbárie e civilização. Podemos exemplificar com as ações similares de Tylor e mais a afirmação de Adolf Bastian: “O povo possui, como fundo psicológico primitivo de sua cultura, as mesmas idéias fundamentais”.
De acordo com os sociólogos e os folcloristas da teoria evolucionista, as formas análogas se explicam pela convergência, “segundo a qual, por solicitações de necessidades semelhantes, o homem cria, em lugares diferentes e longínquos, coisas parecidas, quando não iguais”.
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