domingo, 28 de abril de 2013

Figureiros de Taubaté

Ruth Guimarães 

Taubaté, no Vale do Paraíba do Sul, Estado de São Paulo, tem como ponto de referência, o km 281 da Rodovia Presidente Dutra. 

Na entrada da cidade, à direita de quem vem de São Paulo, situa-se o bairro da Imaculada, nome que lhe deu uma capelinha erguida em honra de Nossa Sra da Imaculada Conceição. A principal rua do bairro é hoje muita conhecida dos afeiçoados e estudiosos do folclore. Chamam-na de “A rua dos figureiros”. Vivem lá pessoas de origem humilde, principalmente mulheres dedicadas a modelar figuras de barro, No princípio as figureiras trabalhavam apenas por ocasião de festas natalinas. Faziam primitivos e singelos presépios vendidos aos domingos no mercado. Hoje só uma ou outra figureira de São José dos Campos e de Pindamonhangaba se dirigem ao mercado. As de Taubaté (um pouco por “ciumada” e muito porque ao se tornarem conhecidos os fregueses procuram-nas diretamente), deixaram de expor suas figuras na cidade. 

Na rua das figureiras. Na 3ª casa “às direita” residia há mais de 30 anos dona Eduvirge. Conheci muito! Mulata escura, forte e “sacudida” apesar dos seus muitos mais de 60 anos de idade já lá pelos idos de 1973. Lia “malemá”. Será que ainda toma conta da casa e dedica no mínimo 6 horas por dia à feitura de bonecos? Comprava a argila (tabatinga) a Cr$10,00 a lata de 20 kg. Uns homens que conhecia se encarregavam de ir buscar o barro num local que dona Eduvirge sempre fugiu de indicar. Trabalhava “sempre que tinha uma folguinha”. Não tinha preferência pela manhã ou pela tarde. O local era uma saleta ou varanda de sua casa. O barro era trabalhado sobre uma mesa pequena e baixa. Conservava num caixote o barro molhado. Para trabalhar separava “um tanto” de barro, amassava-o com as próprias mãos, tirava um “pelote”, dava-lhe a forma aproximada de um cilindro e começava a figura modelando primeiro e toscamente o rosto. Seu processo era aquele conhecido por corda indicado por Oswald de Andrade Fº in – “Técnica da Pesquisa da Cerâmica” – Cadernos de Folclore, M.E.C. s/d. É este o processo de corda: o figureiro roda o barro nas mãos formando cordas que vai colocar nos lugares adequados até completar o boneco. Um pedaço de corda é o tronco, outro o braço, outro o chapéu e assim por diante. Para fazer as pernas serve-se uma velha faca, faz um corte no meio da parte inferior do tronco e aí, de cada lado, “puxa” as pernas da figura, modelando-as. 

A figura que escolhemos aquele dia para acompanhar a modelagem em suas fases mais importantes foi a de um jongueiro, o tocador de tambu. Media cerca 12 cm de altura. Mantinha-se em pé sem suporte de qualquer espécie. O tambu é que ajuda a dar equilíbrio. Feito separadamente é grudado ao corpo da figura quando o barro ainda está verde. Com a ponta de uma tesoura dona Eduvirge formava os dedos da figura. Em seguida, com um dedo, o indicador, molhado na água de uma xícara alisava o boneco o qual era posto depois a secar na sombra durante 2 ou 3 dias. Dona Eduvirge não usava forno nem o calor do sol. Não sendo cozidas as figurinhas são de extrema fragilidade. A pintura era feita com tinta a óleo ou esmalte. 

Oswald de Andrade Fº comentou, no livro já citado, que “As figuras são bastante toscas e rudimentares e o maior atrativo que têm está na pureza e ingenuidade da concepção”. 

Ainda há figureiras em Taubaté. Morando na mesma rua. E dona Eduvirge e seu jangadeiro, onde andarão?

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto



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