domingo, 28 de abril de 2013

Feliz Natal

Ruth Guimarães 

Há cerca de trinta anos, talvez mais, reuniu-se um grupo de escritores preocupados com um momentoso problema natalino e decidido a resolvê-lo de maneira inteligente. Discutiram Papai Noel e chegaram à conclusão de que o Bom Velhinho era somente uma criação comercial, sem arte nem mensagens relevantes, e quanto à sua significação, de uma mediocridade. E aquela roupa que jamais se viu algum cristão usando nesta terra de Santa Cruz. Ainda por cima o bom velhinho nada dizia ou fazia que se podia traduzir em mensagem. 

E havia mais. Papai Noel era para gente abonada. Para criança que podia ir à loja, escolher presentes; pais que enfrentassem os preços. Demais tinha-se forjado toda uma identidade, uma criatura branca, estrangeira, idosa, embarcando num trenó que jamais se viu nas ruas de qualquer que fosse a cidade. 

Poder-se-ia dizer que era santo! Não, não era santo. Não fazia a multiplicação dos brinquedos e o trenó não sobrevoava a casa dos pobrezinhos. Qualquer semelhança com tudo que aconteceu um dia é mera coincidência. As vendas de brinquedos e de roupinhas redobraram e por maior que fosse a boa vontade, impunham-se duas questões. Que tinha o nascimento do suave Jesus da Galiléia com a vinda do Papai Noel? Onde estava a palavra do Cristo, a alegria do Natal, nessa figura digamos estrangeira que a gente vê sim, mas não nos comove e ouve sim, mas não diz as palavras que conduzem a criatura a um céu que nunca mente? Que dá forças de aceitação e de silêncio? Que é alegria. Que é coragem... 

Tudo isso aí, não fui eu que inventei. Uns escritores resolveram procurar outro mensageiro do Natal que não fosse esse velho fantasiado que nem falar não sabe. Quem seria esse mensageiro? Os anjos? Algum anjo? Algum profeta? Algum santo? Os bispos e os cardeais? 

Por muito que quebrassem a cabeça, os pobres dos escritores não conseguiram nada criar nem inventar uma criatura que fizesse essa coisa tão simples: anunciar que o Menino-Deus tinha nascido e que daria brinquedos às crianças. 

Não adianta falar em Vovô Índio ou outro manipanso qualquer. 

Nada se conseguiu. 

E o Papai Noel que nada tem a ver com a nossa cultura continuou e continua vindo cada Natal, com o trenó, que jamais usamos para viajar, as renas que não fazem parte dos nossos bichinhos selvagens, nem nos circos, e a fantasia em vermelho e o gorro da Europa ocidental. 

Já sabemos o que dirão: pra que toda essa conversa se Papai Noel não existe? Ainda não contei. Mas estou certa de que existe mais gente falando aos caixas das lojas que no confessionário e mais gente nas lojas do que nas igrejas, apesar da voz dos sinos, bimbalhando o eterno chamado.

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