domingo, 28 de abril de 2013

Fadas de ontem e de hoje

Ruth Guimarães 

Contos de fadas são esses relatos maravilhosos, em que uma entidade tutelar, sobrenatural, dotada de poderes, protege a criatura desvalida, aponta caminhos, ajuda a transpor obstáculos, e, ao mesmo tempo, proíbe, não faça isto, não faça aquilo, até adverte que não deixemos de pagar em dia nossas mensalidades. 

No Brasil, são poucos os contos que apresentam verdadeiramente as fadas. A deslocação das histórias da Europa para as lonjuras exóticas de América, a adaptação a costumes diferentes e a vidas muito outras, se, por um lado faz com que se conservem as linhas mestras dos contos e as estruturas, e mais os ensinamentos enrustidos, por outro lado, mudou-lhe a roupagem completamente. No principal, o conteúdo é o que é. 

Nas europas ficaram as fadas, as de varinha de condão e sorriso luminoso. Aqui, fada é a madrinha do moço que foi ao inferno buscar a própria sombra, perdida no jogo; é o desconhecido que dá conselhos em terra estranha e príncipes desarvorados; é a mãe morta que substitui a filha-menina, nas pesadas tarefas; é a vaquinha que deixa a madrasta perversa matá-la, para que a menina lhe tire dentre as tripas a varinha de condão; é a velhinha corcovada que indica, supre e oferece; e é, acima de todos, Nossa Senhora, madrinha dos desvalidos, dos excluídos, dos sem-terra, dos sem-teto, dos que vão com fome pelo mundo, dos tolos, dos espeloteados, dos inocentes. 

E fada pode bem ser alguma fada mesmo, o que às vezes acontece. 

Os contos de fadas, os imortais, estão sendo postos de lado. E há motivos relevantes. Por um lado, os milagres dos feiticeiros e dos magos, são ninharias do cotidiano, hoje em dia. As fadas estão desmoralizadas. A bota-de-sete-léguas perdeu para o avião a jato; o espelho mágico não suportará o confronto com o vídeo. Andar pelo fundo dos mares é coisa que qualquer um faz, se tiver os aparelhamentos, o oxigênio, o pé de pato. Vai pra lá se divertir com a pesca submarina. Alcançar a lua... ora! Depois dos foguetes espaciais e do cabo Canaveral!? 

Uma velha amiga, certa vez, me disse: “O que foi conto de fada, no meu tempo de criança, é isso que está acontecendo agora”: a voz da pessoa invisível, a fonte da juventude, gastar sete sapatos de ferro em sete anos e um dia, alcançar o céu e a lua, edificar um palácio numa noite, habitar o fundo do oceano, voar, tudo são antigos sonhos humanos ultrapassados pela realidade. 

Por isso, muita gente pensa estarem também os contos maravilhosos ultrapassados. Ledo engano! Com a mesma aceitação e a mesma universalidade deles temos os contos de fada modernos, para os quais se orientam, num tropismo inexorável, o ávido interesse dos ignaros e dos imaturos. Super Man, Batman, Mickey, Super Pateta, não são fadas, todos?

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