Ruth Guimarães
O amigo me diz que é principiante. Está ou esteve se preparando para ser escritor? Procurou frequentar os Mestres, os Clássicos da língua, estudar, comparar, conhecer, aprender seus processos e recursos, ou será que alguém nasce escritor, como nasce branco, preto, homem, gêmeo, de sobrancelha arqueada ou parecido com o pai?
O homem nasce tão nu, tão inerme, tão despojado que “só o chorar não é preciso aprender.”
Para andar, o aprendizado é lento e difícil.
Mude o nome de Principiante para Aprendiz, e tenha, mais do que muita gente célebre que conheço, a humildade e a grandeza de ser aprendiz de escritor.
“O homem não é isoladamente artista, poeta, sábio ou filósofo. Deve ser de algum modo tudo a um tempo, porque a natureza é íntegra.”
A frase é de P. Van Thiezen, um naturalista, em Le sentiment de la nature. E, pois, se o homem comum, qualquer um, tem que ser um pouco de cada coisa, por que somente o escritor tem que ser escritor somente e mais nada e entender de alinhar palavras no papel (quando entende) e de mais nada?
Frost, o decano dos poetas norte-americanos, interrogado recentemente sobre o que tinha a dizer ao poeta jovem de hoje, respondeu: “uma coisa me preocupa e desejaria que preocupasse também aos jovens: é considerar a poesia como a primeira forma de compreensão... Os jovens poetas esquecem que a poesia deve incluir a mente, assim como as emoções. Muitos poetas se iludem, pensando que a mente é perigosa e deve ser deixada de fora. Pois bem, a mente é perigosa e deve ser deixada dentro... O poeta poderá usar a mente – tremendo e temendo. Mas deve usá-la.”
De modo que o mandamento para o jovem escritor é este: estudo e trabalho.
Somerset Maugham diz que escreve todos os dias, tenha ou não um assunto que valha a pena. O melhor da sua produção é aquela comandada pelo subconsciente, declara. (Entrevista concedida a Justino Martins e publicada na Revista do Globo). Então vai escrevendo uma coisa e outra obra-prima, como alguns de Camilo Castelo Branco, ou ser trabalhado durante dez anos, como o imortal D. Quixote. Um alfaiate pode marcar tempo para fazer um terno, um engenheiro dá um prédio em tantos meses, um poeta não sabe quanto tempo levará pra compor um poema de dez linhas que o satisfaça. Como pode o amigo saber que uma tentativa de quinze ou talvez dezoito meses poderá ser levada a cabo?
Em segundo lugar a arte independentemente das contingências. O artista é obrigado, por força subjetiva e intransigente, a criar acima e apesar de qualquer outra coisa. Escrever é fatalidade.
Falta de dinheiro não é problema. Falta de tempo não é problema.
O que é problema é a ausência do dom, da graça, da necessidade subjetiva, fisiológica, de escrever. O que é problema é a falta de cultura geral e do cultivo desse dom.
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