Ruth Guimarães
Os que vão à festa são gente de fora da cidade, os da periferia, dos subúrbios, de Rocinha e Lagoinha, do Pedregulho, das Pedras, do Putim. Gente da cidade, agora que é moda gostar de folclore, andou caracolando à tarde, no domingo, em bonitos cavalos na cavalaria. Senhora e senhorinhas do asfalto. Já foi tempo em que se proibia a entrada de mulheres nas filas de cavalaria. Nem mulher nem égua. Hoje se abre mão desse tabu. Mas é só ali que se vê gente da cidade.
A festa toda é popular mesmo.
Ainda se mantém a tradição do almoço para os festeiros, os dançadores, os juízes. O dia todo no domingo funcionam as casas de doces, uma do rei e da rainha, uma para cada juiz.
Até há poucos anos se comia nas casas da festa, os doces próprios da ocasião, principalmente de mamão, cidra e rapadura (furrundum) batata-doce, goiaba, casca de laranja da terra, tudo isso se comia no prato fundo. Cada pratarro de camarada, não sei como se aguentava. Com o correr do tempo e da inflação, o tamanho do prato de doce diminuiu muito. Nada de prato fundo, é no pires mesmo. E nem isso. Um docinho na mão, para não aguar. O caso é que toda gente come dos doces da festa e é uma comilança pantagruélica, à noite, no largo, na festa, em barracas de cachorro quente, bolinho, doces, quibes, pastéis, a gama completa das gulodices comerciais de festa interiorana.
Foto de Botelho Netto |
As danças populares, folclóricas, grupos dramáticos vindos de Cruzeiro, de Lorena, de Guaratinguetá, de Tremembé, de Taubaté, de São José, de Lagoinha, de Rocinha, de Cunha, de Redenção da Serra e de Natividade da Serra, de São Luiz do Paraitinga e de São Luiz do Paraibuna, de São Bento do Sapucaí, de Santa Rita, de Santa Isabel, de Arujá, de Roseira, de Moreira César, todos esses grupos dançam no largo, fazendo uma algazarra e dando a nota colorida no festival arraial construído do dia para a noite.
E gente, meu Deus! é um mar de gente. As damas de São Benedito estão com a roupa bonita de ir à procissão. Andam pela praça como belas rainhas negras, ah! quase todas negras, com roupa de dama e com seus ares de damas.
O clima é de magia, um estranho ambiente colorido, o seu tanto místico, o seu tanto de conto de fadas. São Benedito já entrou na igreja e de lá preside a festa, na hora do beijamento.
Foto de Botelho Netto |
Ninguém mais repara o feitio da igreja modernizada pelos padres, numa reforma que tirou completamente o caráter da igrejinha românica de São Benedito. Agora se vê a festa com sua feição tradicional, muito antiga, diante de uma igreja super moderna, e na praça super urbana.
Não combina.
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