domingo, 28 de abril de 2013

É JULHO

Ruth Guimarães 

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Quando esta crônica for lida, já estarei na chácara, em pleno vale do Sol. É Julho das noites límpidas, de lua liquida, de Céu profundo, de estrelas geladas. É Julho e a mangueira se enfolhou de novo e se cobriu de flores. Contra o luar, ela parece solene, grandona, misteriosa. Muito alta toca as nuvens e as galáxias. Por ela roçam os anjos de asas imensas. De dia ela perde em espessura, despojada da escuridão e ganha em juventude. Não mais jóias dos astros, na coma de veludo e sombra. 

Seu toucado é feito de flores e abelhas. Esta enfolhada para a festa nupcial, coberto de verde novo, e de pétalas antigas. O vento aí vem, suntuoso tapete de desenhos inimitáveis. As abelhas voam zumbindo. Na florada da manga o mel é grosso, é forte, cheira bem. 

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Na chácara, o Sol se levanta cedo. Às sete da manhã já está de fora, gloriosamente, acabando de esfiapar um resto de neblina. E se reclina sobre a mangueira feliz, reverdecida, tonta. Quem o anuncia é a curruíra, que fez um ninho complicado nos ramos do maricá, depois que brigou com a pitangueira. 

É JULHO. Jamais esmaece o verde da grama. Jamais esmaece o verde-oliva das laranjeiras cheirosas. Jamais esfria o raio de sol. Jamais empalidece o azul cobalto do céu. Jamais entristece a cançãozinha clara do Paraíba, murmurante entre as pedras, todo revestido de luz.
Bananeiras de tronco roliço e palmas longas soltam grandes cachos, que vão ganhando tamanho e amadurecendo, como se não fosse julho. Mas os limoeiros perfumados têm flores e frutos a um tempo, num desperdício. Mas os sanhaços furam os mamões de casca dourada e polpa doce, macia, escorrendo melado, que os pássaros desprezam e as vespas aproveitam. Mas as velhas goiabeiras, que já estão meio caducas, não esperam a chuva: as goiabas amadurecem, entre os vivas do bentevi e a zoeira dos marimbondos.

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Há muito tempo eu não ouvia os sinos. Aqui eu ouço os sinos. Ninguém me acredita, mas é julho, é inverno, os morros vestem a florada roxa de capim angola, as maitacas voam cedo para o mato, voltam num clamor, às cinco da tarde. Asas de andorinha riscam (é julho) o céu. Elas daqui nunca se vão.









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