terça-feira, 23 de abril de 2013

Dos maridos fujões

Ruth Guimarães

Botelho Netto
Velho ditado do Vale do Paraíba afirma que: a criança pequena, a leite no fogo pra ferver e a marido, não se deve dar as costas; mandamento exclusivamente para as mulheres, mães e donas de casa. E já que estamos no assunto de marido fujão, vejamos as três veredas por onde o fujão escapa da cara metade implicante.

Hoje, entretanto, eu quero falar daqueles que fogem por muitas vias conhecidas para se livrarem da língua de mulher rezinguenta.
Uma das vias é o carro. Não o usado para longas viagens, para distâncias incalculáveis e inatingíveis. Nada disto, é ali mesmo, na garagem de casa, no quintal, na rua em frente. Lavar o carro interminavelmente, com minucioso carinho, alisando e dando lustre.

-Honório, vem jantar, homem. Deixe de alisar esse carro!
-Mais um instantinho (de liberdade) está quase pronto...

A outra via para fuga exige uns implementos: a varinha de pescar, talvez uma carretinha, tirar minhoca no brejão, vestir calças velhas, levar um cestinho trançado e voltar com algum peixe. A terceira é assistir a todos os jogos de futebol do brasileirão, os da várzea, os comentários da TV. A fala do jogador que estragou um pênalti, e todos os etecéteras dos campeonatos.

Mas há uma rota mais eficiente. Mulher que se preza não vai lá. Esposa rezinguenta não vai lá. Você bebe no maior sossego. E há as engraçadas acontecências. É o botequim. Buteco para os íntimos. E as suas engraçadas acontecências.
Com vistas a todo este desmando, qual a solução? A castidade? Ora vejam só! Que não é isso que prende marido, não. Porque casamento, como já andei falando por aqui, é uma instituição falida. Parece-lhes muito casta esta conversa? Ora, ora, ora.
Como nos acampamentos dos crentes, aqueles que creem, seja de que religião forem, o que se pretende é um reavivamento. Que o sexo seja de puro desinteresse. Menos egoísta e menos mercenário.

Que a união não seja de 50 quilos de malícia contra 70 quilos de evasivas. Em cada mulher deve estar escondida alguma Scarlet O’hara. Que jamais se encontrem para a posse aquele que ama e aquela que não ama e vice-versa, de onde advém a insuportável dominação.
Claro que casamento é permissão para o sexo, já falei isso também em outra ocasião, ou lá do que seja chamado, mas estímulo nenhum. É até conhecida a piada do rapaz que perguntou à moça, em circunstâncias de perigo para uma donzela comportada:
“Você quer que eu proceda como um homem qualquer, da rua, ou um marido?” “Um marido, é claro” – foi a resposta. Então o rapaz virou-se par ao outro lado, dormiu e roncou a noite inteira.

Puro amor, sem preço, nem interesse, nem o olho no futuro, nem barganhas, nem reticências.
Há uma palavrinha que contém em si um poder miraculoso. Soletra-se r-e-s-p-e-i-t-o. Respeito. 
Receita para o sucesso, para a felicidade, para viver em paz, para não ter insônia, para não brigar com os vizinhos, para rir com gosto, eis aí: 
Respeito por si mesmo; respeito pelo próximo, respeito pelo que pertence a outrem; respeito pela comunidade e pelos costumes; respeito pelas crenças alheias e pelos sentimentos alheios; em suma, respeito pela vida. 

Marido fujão e cara metade implicante, talvez o que esteja faltando seja só respeito...

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