domingo, 28 de abril de 2013

Dos contos populares

Ruth Guimarães 

Contos populares vieram a nós por via lusa, alguns, e outros foram atribuídos a negros e índios. Alguns são de encantamento, outros miraculosos, todos de exemplo. Com referência à utilidade, a pobre humanidade, neste século de depressão, bem que anda precisada de encantos e milagres. 

A literatura folclórica tem duas faces: uma o ato encantatório (como o dos contos de fada) diegético, quando o agente do encantamento concede as benesses e deixa sem efeito as metamorfoses malignas. Outra a metamorfose real dentro das almas, o êxtase, o enlevo, o transporte, para a certeza de que jamais estamos sozinhos. Que por muito desesperada a situação, alguém nos trará uma esperança. 

Essas acontecências miraculosas dos contos de fada encobrem os desejos do homem comum, acordado, encobertos pelos símbolos. Persistirão no subconsciente, esse laboratório da alquimia da alma, onde cada um tenta resolver os mistérios da sua própria vida. 

Vivendo, contando, escrevendo os contos encantados, somos ajudados por ele a solver os nossos mistérios, sem choques e sem ansiedades. 

As histórias com suas fantasias de cavalos alados, de prinspos e de prinspas, de papagaios que viram gente, de andorinhas que falam, de madrinhas que transformam abóboras em carruagens, trazem restos de ilusão ao homem resseco desta era tecnológica. Era que, no seu sentido mais terrível, maquinático e maquinâmico, destrói a fantasia e a capacidade de criar novos desejos e sonhos. E de realizá-los. 

Vamos encontrar três excelências nesses contos: os relatos metafóricos indicam o rumo. Que ninguém se perca por falta de sinalização. Em lugar de censura, nos dão modelos. Não censuram nem impõem. O educando é apenas posto diante de si mesmo. Enquanto flui a história é posto diante de si mesmo, e discute consigo as suas capabilidades. A situação é narrada minuciosamente, postos os seus possíveis aconteceres, por intermédio de um comentador, e esclarecedor, uma figura conhecida e benéfica: Nossa Senhora ou qualquer velhinho bem intencionado. Em vez de explicações e ordens, símbolos e exemplos. São apresentados os modelos necessários. Todas as indagações são respondidas. 

Eu cantaria sem parar, como o rouxinol que quis alegrar o rei da China? Faria por meu pai o que fez o terceiro filho do rei de Belukistão? Encontraria meios de sair do labirinto? 

E todos constatam simplesmente que será sim, se... 

Se tiver coragem suficiente, se for dedicado, se for perseverante, se não recuar na hora do perigo... 

Assim dá para pôr em ordem as tendências caóticas do subconsciente e finalmente saber por onde ir e para onde ir. 

A terceira excelência é talvez a mais necessária: indica o limite do Homem. 

O conto popular estabelece a filosofia popular, empírica, o querer, o fazer, o sentir e o pensar de todo um povo, expresso simbolicamente.

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