sábado, 27 de abril de 2013

Do fogo e das fogueiras

Ruth Guimarães 

E porque acabo de passar parte de uma noite fria perto de uma fogueira de festa junina, lembro vários acontecimentos ocorridos nos folguedos juninos, em especial os de São João. O santo era muito festejado por aqui,em outros tempos, quando havia lenha para queimar, fé para homenagear o santo e vagar para rodear fogueira e escutar os causos, bebendo quentão, e comendo batata doce assada no rescaldo, na cinza quente. 

Conta a lenda que Santa Isabel, prima de Nossa Senhora, mandou acender uma fogueira no alto de um morro, para anunciar à prima o nascimento do menino que depois foi chamado de João, e que foi o Batista. Sabemos que os povos da Europa saúdam o advento do equinócio da primavera acendendo fogueiras. 

De acordo com os dados da ciência folclórica, pode-se chegar à conclusão de que os mitos fundamentais têm um caráter cosmogônico. O fogo permanece entre nós no simbolismo de acender velas para as divindades e para os mortos (os numes dos antigos). 

Em qualquer das suas formas (fogo simplesmente, o raio, fogo santelmo, fogo fátuo, boitatá), o deslumbramento permanece. Entre as práticas religiosas mais correntes está a de manter um fogo aceso diante de um deus. Perpetuamente, diante do Santíssimo Sacramento, a luz vermelha do Espírito Santo e diante do Sagrado Coração de Jesus entronizado. Tudo transposição do culto do fogo. 

Os povos bálticos o adoravam. Em Nadróvia, província da Prússia, na bacia do Prégole, havia um templo, onde se conservava perpetuamente aceso o fogo consagrado. Peruna, invocado na Rússia como deus dos juramentos era o deus dos relâmpagos. Svarosits ou Svarog era o deus do fogo das tribos eslavas, que habitavam a fronteira polono-velete. Belisama (semelhante à chama) era a deusa do fogo entre os celtas. Brigite, deusa celta das estações do ano, tinha o seu culto ligado ao fogo, na grande festa da purificação, que se celebrava a primeiro de fevereiro, chamado dia do Imbolc. 

Na mitologia germânica, Lóqui é um espírito do fogo. Seu nome se prende a uma raiz germânica que quer dizer labareda. Na Noruega, quando o fogo crepita, diz-se que Lóqui bate nos filhos. Mitra, da mitologia persa, ao termo de sua carreira na terra, sobe ao céu num carro de fogo e nele é conduzido até o sol. Na mitologia indiana, Agni, o deus do fogo, é a Vontade Divina, ou o Poder Consciente, que é o Senhor do Universo. Agni é o motor, o instrumento e o fim. São epítetos de Agni: o Comedor de Ablações, Ser da Luz, Purificador, Conhecedor de Todos os Nascimentos, Carregador de Oferendas, Ser de Deslumbrante Esplendor, o Chamejante, o Terrificante. No céu Agni é o Sol; no ar o Relâmpago; na Terra o Fogo. É a vontade divina, que governa e guia. A iconografia o descreve como um homem vermelho, com três pernas e sete braços. Tem os olhos negros e de sua boca jorram chamas. 

Fechando essas notícias a propósito do fogo e de fogueiras, temos no Brasil: a festa de Nossa Senhora das Candeias, a 2 de fevereiro, quando se desmancham os presépios.
A procissão do fogaréu em Guaratinguetá, na quinta-feira santa, as procissões do Enterro um pouco por toda parte. 

E essas inefáveis fogueiras juninas, regadas a quentão, canelinha e vinho quente. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário