sexta-feira, 26 de abril de 2013

Causos Cachoeirenses

Ruth Guimarães

Havia uma terra onde aqueles que não pagavam dívidas ao morrer eram atirados ao campo, para os corvos. Um homem ia passando pelo campo e viu um cadáver insepulto. Teve muita pena, foi buscar uma enxada, abriu uma sepultura e enterrou-o. Algum tempo, foi preso e não tinha dinheiro para contratar advogado. Então apareceu um homem todo de preto, que se ofereceu para defendê-lo. E defendeu-o tão bem que ele foi absolvido. Agradeceu muito e o homem falou: “Não precisa agradecer, que estou pagando o que devo a você”. - Levou-o ao campo onde tinha sido enterrado aquele cadáver e desapareceu. Aí o homem compreendeu quem era o seu singular defensor. 

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“Mio pai nasceu na Bassi Itália. Nóis semo da Calábria. Isto que ele cuntou cunteceu na terra dele. Foi ansim: - um moço foi visitar a namurada. Se vê que o moço dimorou demais na casa da moça e quando ele veio simbora era quase meia noite. E entó ele tinha que atravissá um caminho escuro. E ilo foi andando e na mitade do caminho encontrou uma vela acesa e em cima de uma pedra. Pigô a vela, assoprou ela e levou no volso para casa. No outro dia, quando se deixou acordar, viu um osso de defunto no lugar da vela. Ficou com muito medo e foi se confessar. E o padre falou que ele precisava ir outra vez levar o osso e deixar no lugar onde tinha achado ele. E falou: “Você leva um gato seguro com você. Senão você morre e vai para um lugar ruim, junto com a alma perdida que estava lá”. O moço foi, e levou o gato seguro no braço. À meia noite em ponto passou pelo lugar e deixou o osso. Nessa hora escuitou um barulho, apertou com força o gato para não fugir e correu para casa. Chegou lá o gato estava morto. (Dona Rosa - italiana, analfabeta. Calabresa).

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O PERU

Um agregado de fazenda contou isto: “A minha mãe brigava muito com meu pai. Na roça, a gente guardava água em barril, porque não havia encanamento dentro de casa, e, fora, era água do rio e de mina. Numa noite, a minha mãe sentiu sede e pediu ao meu pai para ir buscar água, que ela estava com muito medo de ir à cozinha. Ele se levantou e foi.

Dali a pouco, voltou porque - disse - não tinha encontrado água. Tinha olhado no barril e estava vazio.

Minha mãe começou a gritar, que era mentira dele, que não podia ser, que o que ele tinha era má vontade, e que ela ia lá buscar a água, que não devia ter pedido nada, para levar com aquela desconsideração. Pulou da cama e foi.

Pego uma caneca, achou água e veio voltando para o quarto, quando, no corredor, deu com um enorme peru, com as asas abertas, que se botou na direção dela. Minha mãe largou a caneca e voou para o quarto. Empurrou a porta, entrou como um furacão, meu pai perguntava, que foi? E a água? E ela não respondia nada. Tinha perdido a fala com o susto.

Nisto, meu pai escutou uma voz que pedia para eles não brigarem mais, que isso causava sofrimento a quem já tinha morrido e lhes queria muito bem. Contou que havia uma alma querendo separar os dois. Que tinha chegado antes dela. A alma perversa era o peru. A voz acrescentou que se eles continuassem a brigar, um poderia matar o outro.

- Quem está falando? - gritou meu pai apavorado.

- Sou a sua mãe que já morreu.

Depois disto não se escutou mais nada, minha mãe recuperou a voz para contar a carreia que levou do peru. Meu pai foi novamente para o corredor, mas não encontrou mais o peru. Daí para a frente, o relacionamento entre eles foi melhorando e eles não brigaram mais”.

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