As malas artes da política

Ruth Guimarães

Era uma vez um moço chamado Pedro de Malasartes. Era malandro demais, enganava qualquer um que encontrasse.  Ele tinha uma pedra com um buraco do lado, meio oca até no meio.  Nesse furo cabiam quatro moedas.  Ele tinha algum dinheiro na gibeira, e arrumou dentro da pedra, bem direitinho, tampou com cera e foi andando. E seguiu em frente e andou mais um pouco e viu um homem com um rebanho de ovelhas.

-                                 Opa! Esta é minha vez de ganhar dinheiro.

Deu de encontro com o homem e disse:

-                                 Achei uma pedra mágica.

-                                 Como você disse?

-                                 Achei uma pedra mágica.

-                                 Não acredito.  Isso é piada.

-                                 Quer ver? – o Pedro perguntou, deu umas sacudidas na pedra gritando:

-                                 Me dê dinheiro aí! Vamos! Me dê dinheiro aí!

O dinheiro voou de dentro da pedra e o homem abriu uma boca deste tamanho, espantado.

-                                 E não é que é mesmo?

O Pedro contou vantagem:

-                                 Eu não falei, seô?

Aí o outro quis barganhar o rebanho inteiro pela pedra.

-                                 ‘cê pensa que eu sou bobo? Daqui desta pedra eu ranco dinheiro quando eu quero.

Depois de muito discutirem fecharam negócio.  O homem entregou as ovelhas e o Pedro deu a pedra sem volta.

Pedro de Malasartes apurou uma boa grana com a criação e o outro ficou feito bobo gritando:

-                                 Pedra! me dá milhão! Pedra me dá um milhão.

E assim se acabou a história.

Parece que acabou em pizza a inútil descoberta da fraude.

Nós, que seguimos ao vivo, passo a passo, o conto folclórico, vemos que as descobertas de fraudes não estão nos ajudando. A história vai passo a passo à frente passo atrás, passo atrás passo à frente, e nada muda.

Adiantou Pedro I proclamar a independência? Adiantou mandarem embora o segundo Pedro? Adiantou darem uma rasteira no Collor ? A corrupção esteve e está. Quem ganhava dinheiro está ganhando dinheiro e quem não estava continua não estando. E certa deusa de olhos vendados, continua de olhos vendados .

Para mudarmos o cenário, vamos variar de pergunta. Adiantou, a não ser politicamente, fazer CPIs ? Adiantou organizar e “ trabalhar “ nas CPIs ?  O legislativo está mais honorável? O seu sistema de trabalho é o mais sério e o mais recomendável? E o aumento de salários em causa própria?

E o sistema de trabalho em nossas altas câmaras? Estão os membros de nossas altas câmaras de cabeça erguida ou o sistema ainda é o mais sorrateiro?

Empregar os sobrinhos, os inefáveis nepotes, como se chama?  Ou não se lembram mais? E dobrar o seu próprio estipêndio, de um dia para outro, sem discussão, enquanto milhões de salários continuam mínimos gritam de fome.  O que é isso? “Esses” lutam contra a corrupção e não temos outros paladinos, a não ser os que pusemos lá.

E estão querendo empurrar-nos uma pedra de onde brota dinheiro. E nós vamos comprá-la com os nossos aumentos e os nossos impostos. Salvo seja!