quinta-feira, 25 de abril de 2013

A semente da impunidade

Ruth Guimarães 

A Didática tem dois ramais: o elogio e a censura. A aprovação e a reprovação. Quando se deu a famigerada disposição que criou o Professor-Saci (com a aprovação de caminhar somente num pé, isto é, do professor louvaminheiro, que só dá boas notas, do professor isto pode isto não pode, louvar pode, reprovar não pode) restou ao magister, na defesa do seu meio pão de cada ida, ajoelhar-se humildemente diante do educando, rogar-lhe que queira aprender (quando os quereres ele devia ter trazido de casa). 

Todos sabem que criança aprende com a maior facilidade. Se o método for bom, com seis semanas o curumim já estará de posse do código das letras. 

Esta que vos fala foi alfabetizada aos cinco anos, aprendeu a ler (não aprendeu a escrever) só de ouvir. É que eu estava lá, por estar, fazendo hora. A professorinha de uma classe anexada do primeiro ao terceiro ao, com alunos, quase cinqüenta, de cinco anos aos dezesseis organizou um coral falado, isto é, cantava as lições, oito, dez, quarenta vezes, exaustivamente, até que todos ficassem sabendo. Eu lá estava, ouvindo. Não sei das proezas do meu subconsciente, mas era criança, cabeça leve, limpa, nada para pensar das tristezas da vida. Mente lisa e virgem. Ah! Estava lá fazendo hora e cantando. 

Houve inúmeras reformas de ensino, cada qual mais incompleta, mais falha e talvez pior do que as antecedentes. Massacrando o método e desconsiderando o comportamento. A grande destruição, o onze de setembro do ensino foi a impunidade, posta em vigor no governo do sr. FHC. O método seria o construtivista, para dar no letramento. Em suma era o seguinte: Fosse o aluno vadio, faltoso, desatento, mal educado, não tivesse trazido nada de berço, que importava isso? Se não aprendesse seria aprovado do mesmo jeito. É proibido reprovar. 

Estaremos falando de métodos de ensino, de leis de Pedagogia ou de impunidade? Esta começa na escola, na creche, no berço e vai até as câmaras do nosso infeliz Legislativo. Ao infinito. Alastra-se como mancha de óleo. 

A Escola Nova tem mais de oitenta anos. Chegou preconizando não bater no educando de vara de marmelo, nem dar bolos de palmatória, nem deixar o faltoso ajoelhado em cima de grãos de milho. Foi um grande passo à frente, em direitura da civilização. Mas demos um grande passo atrás com a tal história da impunidade. É proibido corrigir. 

Não se trata de métodos de letramento, mas de aprender a ser gente. Enquanto discutimos construtivismo ou métodos fônicos, continua a impunidade e o ensino degringola. 

A lei da vida é o movimento, e o movimento prova-se caminhando. Se não formos para a frente, voltamos para “vovô viu a ave”... 

Mas aqui entre nós, estamos voltando é para o B com A faz BA... 

Cantado.

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