segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Solidão


Ruth Guimarães

Ultimamente as estrelas não têm aparecido. Olha-se para o céu, é um negrume, um silêncio, uma tristeza.
Onde o Luar do Sertão?
Onde a doçura de uma claridade morna, extensa, quase luz sobre as nossas amarguras?
Cruzam os céus os aviões e helicópteros;
Sobem para lá as fumaças dos incêndios e das chaminés assassinas, e dos escapamentos irresponsáveis.
Tudo se mistura em rolos gordos, desmedidos de fumo.
Nada mais de Luar de sertão e outras bobagens dos poetas.
Onde estão os poetas de sol e mar, de luares e das estrelas?
Onde estaria Bilac, estreando em nossos tempos?
O que seria de Catulo? O poeta, não o filósofo.

Pois que um acontecimento inquietante nos atinge agora. A juventude prefere a Ciência, as encantadas elucubrações do amor. Se tais ciências tivessem acontecido duzentos anos antes, ou até mesmo com um século de adiantamento, não teríamos tanto clamor e romantismo nem o encanto das paixões, nem toda essa inefável bobagem do amor.

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