Ruth Guimarães
Tenho medo dos seus pávidos silêncios.
Esses
espantos, esses sonhos
Estes
abismos
vieram
de atávicos assombros.
Quando
furtivamente caminhando
num
pávido silêncio
o
homem levou nos ombros
o medo
enorme
do
indomado, do invisível,
de
outras sombras
-
rodeando escombros,
onde a
morte tocaia e vence.
(E um
pávido silêncio...)
Este
corpo que é meu e eu não domino
Ainda
tem qualquer coisa de floresta
rugindo
no sangue.
E
qualquer coisa de raiva incendiada
do
guerreiro que tomba.
E
estes nevos que agora e sempre me atraiçoam
guardam,
gravada a fogo,
a
impressão do animal perseguido,
que se
esconde e que espreita
e que
nunca descansa.
Se não
é música o que digo.
bate o
ritmo dos maracás e dos tantãs,
essa
herança imprevista
de
algum avô dançador.
Minha
mão tem gestos de garra.
Tem
bruscos movimentos de segurar machados
de
pedra
para a
guerra sem tréguas
com os
guerreiros de agora,
como
eu redivivos.
Minha
boca tem bruscos arreganhos,
ainda
sustendo lembrança do enfeite
que
rompeu a beiçola
de
algum cabinda
ou de
um negro de Angola.
O que
em mim aceita a vida
e
clama
pela
luz,
é uma
lembrança pagã da adoração do sol.
Agora
falo de liberdade
e
fraternidade
uma
voz que se esconde sob a minha
tem
qualquer coisa de rugido
de
fera malferida
percorrendo
a floresta
e
atroando os ares de clamores.
Essa
voz vem de outra vida de pavores.
Eu não
sou eu.
Afinal
o que é meu,
de
tudo isso que tenho?
Ideias?
Pensam
através de mim
milhares
de gerações
com
esses mesmos pensamentos.
Cada
pensamento – admirado de si mesmo.
Cada
geração – estatelada de espanto.
Sentidos?
Estranhos
que
vibram
de emoção,
como
corcéis em disparadas.
Alma?
Essa
participou do pavor de onde venho.
Trouxe
impulsos,
arrojos,
emoções, superstições e dores.
Se é
minha,
não a
quero.
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