Ruth
Guimarães
Perseguir a
felicidade é destino dos homens, o que está afirmado e reafirmado no folclore –
que é a nossa verdade mais profunda, o imperativo dessa fatalidade.
Os jornais estampam
em grandes títulos: cada vez mais jovens bebem. E bebem em excesso, no chamado
primeiro mundo ou no Brasil. Segundo o programa Álcool e Drogas sem
Distorção, do Hospital Albert Einstein, São Paulo, nossos adolescentes já
correspondem a 10% de brasileiros que bebem pesado: são 3,5 milhões de jovens. A “Adega” é o que se parece com uma conquista
para uma vida livre e no entanto mais uma escravidão que se prenuncia.
Outras preocupações
existem. Para Saramago é se os livros dados às crianças devem ser acima de seus
conhecimentos.
Urge que façamos
alguma coisa.
Claro, todos estão
preocupados com o acúmulo de crimes, de assaltos, de assassinatos, de namorados
matando a namorada, de presidiários que saem nas datas magnas - de dia das mães
e dia dos namorados - e não voltam mais. Ficam aí pelo mundo, pelo nosso mundo
infeliz aprontando ainda mais do que nas primeiras vezes, escolados que estão
pelo estágio e pelos contatos na prisão. E preocupados com a política nossa de
cada dia, cala-te boca!
Afinal de contas,
somente encontramos e inventamos necessidades, que de pouco servem para nos
encontrarmos a nós mesmos. E de vez em quando colocamos a culpa no Tinhoso:
Na tradição oral
brasileira, conforme coleta feita nos arredores de Bragança Paulista, o
casamento está sob a influência de 9 demônios. Os recém-casados não devem
brigar, para não os atrair. Quando duas pessoas se casam, logo que saem da
igreja, são seguidas por 9 demônios, cujo fim especial é tentar o casal. Se o
casal não brigar nos 3 primeiros dias, dos nove demônios vão embora 6 e ficam
3. Se brigam, vão embora 3 e ficam 6. E se o casal brigar no primeiro dia,
então ficam todos os nove. Os casadinhos nunca mais têm sossego. Durante as
horas em que estão longe um do outro, os demônios também se dividem. Quando
estão juntos, os 9 demônios ficam dançando em torno deles. Se o marido der um
beliscãozinho na mulher, todos os demônios ajudam a beliscar. Ela recebe nada
menos que dez beliscões num só, e o barulho está formado. Quando o marido sai,
é seguido por 3 demônios. 3 ficam fazendo companhia à mulher. Dos 3 restantes,
um tenta a vizinha da esquerda, outro a da direita e o terceiro a da frente.
Assim nascem os mexericos. A mulher, vigiada pelos 3 lados, aproveita os fundos
da casa, para trair o marido. Quando isso acontece, os demônios brincam de
roda. Os demônios que seguem o marido arranjam-lhe mulheres bonitas. Se há
separação, um demônio toma conta dos filhos, outro segue o marido e os outros 7
seguem a mulher. É por isso que a mulher separada do marido anda pintando o
sete. Quando um dos dois morre, os demônios se juntam novamente e ficam na
porta da igreja, esperando outro casal.
Perseguir
a felicidade. “Há sempre quem esteja reclamando porque as rosas não têm
espinhos. Eu me sinto grato porque os espinhos não têm rosas”. (Alphonse Karr 1808-1890).
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