terça-feira, 8 de maio de 2018

Encontrar-se

Ruth Guimarães


Perseguir a felicidade é destino dos homens, o que está afirmado e reafirmado no folclore – que é a nossa verdade mais profunda, o imperativo dessa fatalidade.

Os jornais estampam em grandes títulos: cada vez mais jovens bebem. E bebem em excesso, no chamado primeiro mundo ou no Brasil. Segundo o programa Álcool e Drogas sem Distorção, do Hospital Albert Einstein, São Paulo, nossos adolescentes já correspondem a 10% de brasileiros que bebem pesado: são 3,5 milhões de jovens.  A “Adega” é o que se parece com uma conquista para uma vida livre e no entanto mais uma escravidão que se prenuncia.

Outras preocupações existem. Para Saramago é se os livros dados às crianças devem ser acima de seus conhecimentos.
       
Urge que façamos alguma coisa.

Claro, todos estão preocupados com o acúmulo de crimes, de assaltos, de assassinatos, de namorados matando a namorada, de presidiários que saem nas datas magnas - de dia das mães e dia dos namorados - e não voltam mais. Ficam aí pelo mundo, pelo nosso mundo infeliz aprontando ainda mais do que nas primeiras vezes, escolados que estão pelo estágio e pelos contatos na prisão. E preocupados com a política nossa de cada dia, cala-te boca!

Afinal de contas, somente encontramos e inventamos necessidades, que de pouco servem para nos encontrarmos a nós mesmos. E de vez em quando colocamos a culpa no Tinhoso:

Na tradição oral brasileira, conforme coleta feita nos arredores de Bragança Paulista, o casamento está sob a influência de 9 demônios. Os recém-casados não devem brigar, para não os atrair. Quando duas pessoas se casam, logo que saem da igreja, são seguidas por 9 demônios, cujo fim especial é tentar o casal. Se o casal não brigar nos 3 primeiros dias, dos nove demônios vão embora 6 e ficam 3. Se brigam, vão embora 3 e ficam 6. E se o casal brigar no primeiro dia, então ficam todos os nove. Os casadinhos nunca mais têm sossego. Durante as horas em que estão longe um do outro, os demônios também se dividem. Quando estão juntos, os 9 demônios ficam dançando em torno deles. Se o marido der um beliscãozinho na mulher, todos os demônios ajudam a beliscar. Ela recebe nada menos que dez beliscões num só, e o barulho está formado. Quando o marido sai, é seguido por 3 demônios. 3 ficam fazendo companhia à mulher. Dos 3 restantes, um tenta a vizinha da esquerda, outro a da direita e o terceiro a da frente. Assim nascem os mexericos. A mulher, vigiada pelos 3 lados, aproveita os fundos da casa, para trair o marido. Quando isso acontece, os demônios brincam de roda. Os demônios que seguem o marido arranjam-lhe mulheres bonitas. Se há separação, um demônio toma conta dos filhos, outro segue o marido e os outros 7 seguem a mulher. É por isso que a mulher separada do marido anda pintando o sete. Quando um dos dois morre, os demônios se juntam novamente e ficam na porta da igreja, esperando outro casal.

Perseguir a felicidade. “Há sempre quem esteja reclamando porque as rosas não têm espinhos. Eu me sinto grato porque os espinhos não têm rosas”. (Alphonse Karr 1808-1890).

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