sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Água Funda

“O amor está de emboscada à beira destes caminhos. Está no cheiro de mato verde, pisado, ou molhado de chuva. Está no itê das frutas. Está na quentura do sol e no verde destas paragens. É que nem fojo de caçador, em carreiro de anta, ou então que nem armadilha de pegar passarinho cantador.

Sinházinha veio desprevenida e caiu no laço.
Quando chega o tempo, as coisas acontecem. Antes, vem o aviso.
Viu os pessegueiros como estão? Carregados de flor, como coisa que um enxame de abelhas cor de rosa grudou nos galhos. Daqui a nada, o mês que vem, o mais tardar, está tudo assim de pêssego, crescendo.
Ninguém repara, mas tudo se enfeita quando o amor está para chegar. O cafezal se enfolha tanto, na florada, e fica tão bonito, enfeitado de branco, que dá pena pensar que é por pouco tempo. Flor fica mais cheirosa quando está para virar fruta. Até passarinho muda a pena para se acasalar. Formiga, que é formiga, cria asa e anda tonta no céu, se amando com o sol quente. É verdade que cria asa para se perder, mas tem que ser assim.
Para achar tudo isso bonito é só olhar sem malícia, e de coração limpo.
Sinházinha estava de vez e floresceu, assim como os pessegueiros florescem antes de dar fruta." 

Trecho de "Água Funda".



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