sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Roubos e arroubos

Ruth Guimarães

Foi quase tão grande quanto o assalto ao trem pagador, perpetrado pelo carpinteiro Ronald Biggs e outros quinze comparsas britânicos, em 1963. Estou falando do que uma turma de brasileiros aprontou em Fortaleza, em agosto de 2005. Levaram tanto dinheiro que o peso chegava a três toneladas e meia! As notas desses R$ 164 milhões de reais, enfileiradas, formariam uma tripa de mais de 30 km de comprimento. Dinheiro que não acabava mais.
Ah! Mas acaba, sim. Os R$ 220 milhões abiscoitados pela turma inglesa – 2.631.784 libras esterlinas, até hoje talvez o maior roubo de toda a história -, foram rateados entre os meliantes e cada um ficou com algo em torno de R$ 15 milhões. Para Biggs, preso menos de um mês depois, serviu para corromper funcionários do presídio inglês para que pudesse escapar. O que sobrou serviu também para que ele vivesse por três anos na Austrália, mais um ano no Panamá e, enfim, para chegar ao Rio de Janeiro, já de tanga, sem tostão. Voltou ao ofício de carpinteiro. Estabeleceu-se. Casou-se. Ficou por aqui até 2001. Depois desses 30 anos e dois derrames, decidiu entregar-se à justiça britânica e foi preso.
Do roubo de Fortaleza, não se sabe se o dinheiro acabou. Mais de 30 pessoas foram presas, mas os líderes, os cabeças, esses não foram pegos. Uma artimanha os ajudou: deixaram pistas que levaram a polícia a encontrar parte do dinheiro, cerca de R$ 60 milhões. Enquanto os policiais se ocupavam em recuperar esse dinheiro, os mentores fugiam.
Porque há criminosos que deixam pistas, uns por excesso de soberba, outros por burrice mesmo. Pois em Cachoeira Paulista um ladrão, depois de esgueirar-se para dentro de uma casa e furtar diversos aparelhos, deixou mais do que pistas. Deixou um bilhete. Assinado.
O bilhete veio cair nas minhas mãos, mostrado por um dos familiares da casa assaltada.
João Geraldo da Silva (ou algo assim, porque já faz algum tempo e minha memória não é tão boa) escreveu isto, sem tirar nem pôr:
“Eu não sou ladrão. Afanei umas coisas que estavam aqui dando sopa, com a porta só encostada, porque estou desempregado e não vou morrer de fome. Volto pra pagar, quando estiver melhor de vida.

Assinado: João Geraldo da Silva, vulgo Orelhinha” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário