Ruth
Guimarães
Há
história e estória. Convém discernir. As professoras primárias, na precariedade
de mais esclarecimentos, que lhes tenham dados, costumam explicar aos alunos,
na hora de escrever a nova palavra: se for verdadeira, é história, se for de
mentirinha, é estória. É um critério tão bom quanto qualquer outro, na ausência
de explicações pertinentes, por parte de quem baixou a portaria, lei, regulamentação,
do emprego da palavra. É como cortar o sete ou não cortar o sete. O pobre do
professor de Matemática se vê em palpos de aranha para justificar a coisa. Cortava
e agora não corta, mas por quê? Deixemos que a Matemática se avenha com o sete
e voltemos à história, com ou sem H. o inglês tem as palavras story e tale,
aquela para os contos estruturados pelos escritores, e esta para o conto
popular, o relato que anda na boca do povo. E há uma terceira palavra, pois que
os saxões se definem dialeticamente como gente que sabe o que diz. É a
expressão science–fiction, para as fantasias literárias da previsão cientifica,
à moda Júlio Verne, com invasões dos marcianos, cápsulas especiais, robôs que
acabam adquirindo inteligência e alma, saramandaias e quejandos. Mas não se
diga que o nosso caipira não tem o senso da propriedade das palavras. Esse, não
mistura história com estória, mesmo porque, geralmente nem nunca ouviu falar
dessa coisa chamada agá (H). Mas de história já ouviu Quando é estória lá deles
de assombração ou de empulhação (aquelas mentiras cabeludas, que tem a leveza e
a graça de uma tijolada) narrações etiológicas, ou de milagres , ou de
droláticas ou escatológicas, qualquer uma, chamam de “causo”. E não há erro de
interpretação, nem dúvida no emprego. Como parece que anda havendo entre
pessoas mais letradas. Pois parece que, pela definição de mentirinha ou não
mentirinha a science-fiction entraria na grafia de estória. E evidentemente não
entra (permitam essa pontuação, aí, de intenção didática).
De
modo que, à maneira inglesa, temos História e Estória. E à maneira brasileira,
história e causo. Causo, na hora de falar é causo mesmo, na hora de escrever, é
estória. Se o caipira não erra, por que razão devemos errar?
Acabo
de receber o livro MIÇANGAS FOLCLÓRICAS, de Francisco Pereira da Silva, que
comentaremos na próxima “página”. De amostra, vai o seu comentário acerca de
estórias: “A palavra estória foi sugerida pelo filólogo e folclorista João
Ribeiro, durante suas famosas conferencias de 1913, proferidas na Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro, sobre o folclorismo cientifico, reunidas em 1919,
no livro “Folk-Lore”, reeditado em 1969, pela organização Simões. Gustavo
Barroso, historiador e também folclorista, corroborou a proposta do referido
polígrafo, entrando estória para o uso folclórico, para significar todo relato
lendário e as narrativas tradicionais perenizadas na memória do povo. Fora
desses domínios, errôneo é o emprego do termo”.
Fixação:
Estória
para o uso folclórico, para significar todo relato lendário e as narrativas
tradicionais, perenizadas na memória do povo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário