terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Folclore – Lição nº 2

Ruth Guimarães

Há história e estória. Convém discernir. As professoras primárias, na precariedade de mais esclarecimentos, que lhes tenham dados, costumam explicar aos alunos, na hora de escrever a nova palavra: se for verdadeira, é história, se for de mentirinha, é estória. É um critério tão bom quanto qualquer outro, na ausência de explicações pertinentes, por parte de quem baixou a portaria, lei, regulamentação, do emprego da palavra. É como cortar o sete ou não cortar o sete. O pobre do professor de Matemática se vê em palpos de aranha para justificar a coisa. Cortava e agora não corta, mas por quê? Deixemos que a Matemática se avenha com o sete e voltemos à história, com ou sem H. o inglês tem as palavras story e tale, aquela para os contos estruturados pelos escritores, e esta para o conto popular, o relato que anda na boca do povo. E há uma terceira palavra, pois que os saxões se definem dialeticamente como gente que sabe o que diz. É a expressão science–fiction, para as fantasias literárias da previsão cientifica, à moda Júlio Verne, com invasões dos marcianos, cápsulas especiais, robôs que acabam adquirindo inteligência e alma, saramandaias e quejandos. Mas não se diga que o nosso caipira não tem o senso da propriedade das palavras. Esse, não mistura história com estória, mesmo porque, geralmente nem nunca ouviu falar dessa coisa chamada agá (H).  Mas  de história já ouviu Quando é estória lá deles de assombração ou de empulhação (aquelas mentiras cabeludas, que tem a leveza e a graça de uma tijolada) narrações etiológicas, ou de milagres , ou de droláticas ou escatológicas, qualquer uma, chamam de “causo”. E não há erro de interpretação, nem dúvida no emprego. Como parece que anda havendo entre pessoas mais letradas. Pois parece que, pela definição de mentirinha ou não mentirinha a science-fiction entraria na grafia de estória. E evidentemente não entra (permitam essa pontuação, aí, de intenção didática).
De modo que, à maneira inglesa, temos História e Estória. E à maneira brasileira, história e causo. Causo, na hora de falar é causo mesmo, na hora de escrever, é estória. Se o caipira não erra, por que razão devemos errar?
Acabo de receber o livro MIÇANGAS FOLCLÓRICAS, de Francisco Pereira da Silva, que comentaremos na próxima “página”. De amostra, vai o seu comentário acerca de estórias: “A palavra estória foi sugerida pelo filólogo e folclorista João Ribeiro, durante suas famosas conferencias de 1913, proferidas na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, sobre o folclorismo cientifico, reunidas em 1919, no livro “Folk-Lore”, reeditado em 1969, pela organização Simões. Gustavo Barroso, historiador e também folclorista, corroborou a proposta do referido polígrafo, entrando estória para o uso folclórico, para significar todo relato lendário e as narrativas tradicionais perenizadas na memória do povo. Fora desses domínios, errôneo é o emprego do termo”.
 Fixação:

Estória para o uso folclórico, para significar todo relato lendário e as narrativas tradicionais, perenizadas na memória do povo.

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