sábado, 7 de dezembro de 2013

A romancista preta

Ruth Guimarães, uma valeparaibana de assinalados méritos espirituais e morais, não teve a ventura de nascer branca. Mas Deus, que a fez da cor do ébano, houve por bem dotá-la de um talento verdadeiramente singular, que já anda por aí a causar inveja a muita gente boa que se orgulha, estupidamente, de sua pseudo e remota origem ariana.

A lenda de que o preto pertence a uma raça inferior, não passa na verdade de uma lenda: aqui mesmo no Brasil, durante um dos períodos mais belos e culminantes da nossa história – o da abolição – José do Patrocínio e Luiz Gama, por exemplo, tiveram a oportunidade de nos provar o contrário. Ambos, para não citar outros, foram expressões radiosas de inteligência, patriotismo e de elegância moral. E os brasileiros nos orgulhamos, com justiça, aliás, de tê-los como patrícios dos mais ilustres e dos mais dignos.

Agora, no cenário das nossas letras, surge o vulto inconfundível de Ruth Guimarães. Segundo alguns críticos ela, em “Água Funda”, seu livro de estreia, se revela a maior romancista brasileira destes últimos tempos. E, na opinião de outras autoridades, somente Julia Lopes de Almeida a ela poderá ser comparada. 


Boletim Bancário – 31dez1946.

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