Ruth Guimarães
Um homem andava distraído pela rua, quando tropeçou em qualquer coisa. Abaixou-se para ver e era um saco cheio de dinheiro. Mais que depressa olhou para todos os lados, para se certificar de que ninguém o tinha visto e disparou para casa, ansioso por verificar quanto tinha achado. Era, em verdade, muito dinheiro. Tanto que daria para comprar uma fazenda bem grande, uma floresta inteira com onças e tudo, um milhão de vacas leiteiras, ou uma pilha de cachos de banana maçã, que fosse da terra ao céu. O homem então fez um buraco nos pés da cama e enterrou o dinheirão que aquilo era.
Porém, com o correr dos dias, foi perdendo a tranquilidade e o sono. Ficava horas deitado, com a luz acesa, contando as tábuas do teto, pensando numa solução. Queria ao mesmo tempo guardar o dinheiro e ficar em paz consigo. Mas uma voz lhe dizia que não era direito, que tal quantia estaria fazendo uma falta tremenda a quem a tinha perdido. E assim ele pensava, pensava, sem resolver de uma vez a procurar o dono da fortuna, nem a conservá-la para si.
Numa bela manhã o nosso homem levantou cedinho e foi procurar o vigário da aldeia, um velho padre, corcovado e tranquilo, de olhos bons e alma simples. contou-lhe o caso e pediu-lhe conselho.
- Achei, seu padre. É meu. Achado não é roubado na porta do mercado.
Aí o padre lhe disse palavras sábias e doces, persuadindo-o a procurar o dono do dinheiro.
- Vá, filho. Procure quem perdeu tamanha fortuna. Se não o encontrar, então ela será sua, de direito. Do contrário, ficar com um achado é pecado grave que ofende muito a Deus.
O homem se despediu do padre, resolvido a seguir os seus conselhos, mas nem bem chegou à casa, o demônio da cobiça e da avareza foi mais forte.
- Se achei, é porque foi sorte minha. Não vou dar pontapé na oportunidade, devolvendo um dinheiro que veio por si se pôr no meu caminho.
Então, que fez ele? Apanhou um saco vazio, pô-lo às costas e saiu a percorrer as ruas da cidade, gritando assim:
- Quem perdeu o que eu achei? – Um saco...
E completava baixinho, com um medo louco que alguém ouvisse:
- ... de dinheiro.
Gritou assim o dia todo pela cidade. Quem o viu e o ouvia, não se interessava pelo achado, pensando que se tratava de um saco vazio.
E foi assim que ele cumpriu as recomendações do padre e ao mesmo tempo ficou com o dinheiro.
Muitos poderão dizer que ele fez mal, e alguns que ele foi simplesmente esperto. Porém, só poderá condená-lo, verdadeiramente, aquele que encontrou no chão uma fortuna, sem saber quem a perdeu e resistiu, como um heroico soldado da virtude, à tentação imensa de ficar com ela.
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