domingo, 4 de agosto de 2013

Contos de Cidadezinha

Prefácio
Para quê e para quem escrevo?
Indago de mim mesma e encontro numerosas respostas, possivelmente nenhuma correta.
Para obter honra e glória?
Para dizer tudo o que penso?
Para me aproximar do semelhante?
Para tentar derrubar o muro que separa um ser de outro ser?
Para aprender o sortilégio da vida, que, de outro modo, não alcanço?
Para justificar esta minha existência?
Para deixar impressos no mundo os traços da minha passagem?
Então, será para mim mesma que escrevo?
Ah! Eu conto histórias para quem nada exige, e para quem nada tem. Para aqueles que conheço: os ingênuos, os pobres, os ignaros, sem erudição nem filosofias. Sou um deles.
Participo do seu mistério. Essa é a única humanidade disponível para mim. Quem me dera escrevesse com suficiente profundeza, mas claramente e simplesmente, para ser entendida pelos simples e ser o porta-voz dos seus anseios. Meu temário são as acontecências sem eco no mundo, mas que ajudam a explicar a vida e seus segredos, que talvez possam conter a alma imortal de cada um, seja do rústico, seja do letrado, com suas virtudes essenciais.
Não realizo o alcance do meu clamor, como não reconheço, fora de mim, gravada, a minha própria voz. Ela me parece feia, inexpressiva, não a reconheço, não é a que escuto com a garganta, minha, em mim, nas profundezas do ser. Falta-me distância, falta-me perspectiva.
Depois que escrevo, passo a limpo. Depois de pronto o texto, para ser publicado, dado à luz, não o perfilho mais. Fora de mim, não tem já aquela quente singularidade do instante em que eu o concebia e gestava, em paixão e silêncio. Não significa sequer o quanto vivo a vida, nem quanto a amo.
Escreverei, hoje, para hoje? Que é quanto dura uma crônica de jornal? Para amanhã? Para daqui a um ano? Para daqui a uma década, que é quanto dura – quem sabe? – um livro?
Não sei. Realmente não sei. Continuo tecendo o meu casulo.
Contos de Cidadezinha... Que livro será esse? E nele, onde estou eu? Do que dou testemunho, certamente, é que eu estava mesmo aqui, enquanto os escrevia.

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