sábado, 6 de julho de 2013

Comentários sobre o artigo Gente, de 1963

São Paulo, 24 de setembro de 1963.

Digníssima
Ruth Guimarães.
Praça da República, 294.
a/c. da Folha de São Paulo.
Nesta

Prezada Ruth Guimarães:

Confesso que fui possuído por um misto de alegria e tristeza ao ler as palavras inseridas no magnífico artigo intitulado “Gente”. Tal qual um artista inspirado, V.S. pintou com as mais variadas tonalidades de cores da inteligência, um quadro real e – para a vergonha de nós, os brancos – abominavelmente verdadeiro.
O que me proporcionou alegria, foi verificar que ainda há inteligências que não foram obstruídas pelo mito da superioridade racial, e que, a atitude dos negros dos EUA, não só encontraram eco, mas, o apoio moral e material na sua luta corajosa e máscula pela integração racial. Horrivelmente triste e lamentável, é que foi necessário um movimento portentoso como o está sendo levado a efeito pelos negros, para que fosse sacudido até os alicerces, a consciência dos que se julgam membros de uma raça superior. Esse movimento tornou possível aos que se dizem cristãos, sentirem o pestilento cheiro de sangue dos negros que foram massacrados durante gerações e gerações.
Seria uma calamidade para os brancos, se no após-morte houvesse um julgamento, ou prestação de contas a alguém, pelos crimes cometidos contra os negros.
Creio que bem poucos estariam ausentes desse imaginário julgamento, ou melhor, todos, sem exceções ali estariam como réus.
Quando digo da minha alegria ao ler o artigo em tela, digo-o por serem compostas com palavras que calam fundo na alma dos brancos – se é que existe. São palavras que fustigam a inteligência dos que a possuem, e tenham a presunção de serem religiosamente caridosos e humanos.
Envio-lhe os meus sinceros parabéns, por tão belas palavras que, sem dúvida, irá provocar uma salutar correção mental de muitos cristãos.

Atenciosamente,

Luiz T. Meneghetti

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