São
Paulo, 24 de setembro de 1963.
Digníssima
Ruth
Guimarães.
Praça
da República, 294.
a/c.
da Folha de São Paulo.
Nesta
Prezada
Ruth Guimarães:
Confesso
que fui possuído por um misto de alegria e tristeza ao ler as palavras
inseridas no magnífico artigo intitulado “Gente”. Tal qual um artista
inspirado, V.S. pintou com as mais variadas tonalidades de cores da inteligência,
um quadro real e – para a vergonha de nós, os brancos – abominavelmente verdadeiro.
O
que me proporcionou alegria, foi verificar que ainda há inteligências que não
foram obstruídas pelo mito da superioridade racial, e que, a atitude dos negros
dos EUA, não só encontraram eco, mas, o apoio moral e material na sua luta
corajosa e máscula pela integração racial. Horrivelmente triste e lamentável, é
que foi necessário um movimento portentoso como o está sendo levado a efeito
pelos negros, para que fosse sacudido até os alicerces, a consciência dos que
se julgam membros de uma raça superior. Esse movimento tornou possível aos que
se dizem cristãos, sentirem o pestilento cheiro de sangue dos negros que foram
massacrados durante gerações e gerações.
Seria
uma calamidade para os brancos, se no após-morte houvesse um julgamento, ou
prestação de contas a alguém, pelos crimes cometidos contra os negros.
Creio
que bem poucos estariam ausentes desse imaginário julgamento, ou melhor, todos,
sem exceções ali estariam como réus.
Quando
digo da minha alegria ao ler o artigo em tela, digo-o por serem compostas com
palavras que calam fundo na alma dos brancos – se é que existe. São palavras
que fustigam a inteligência dos que a possuem, e tenham a presunção de serem
religiosamente caridosos e humanos.
Envio-lhe
os meus sinceros parabéns, por tão belas palavras que, sem dúvida, irá provocar
uma salutar correção mental de muitos cristãos.
Atenciosamente,
Luiz
T. Meneghetti
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