segunda-feira, 3 de junho de 2013

O que se diz casamento

Ruth Guimarães

Hoje eu não quero falar de liberdade nem de alma. Eu quero falar de casamento.

A nossa época tem matado muita coisa. Deus está morto. Dizem os grandes poetas que a poesia também morreu. E agora o desejo de todos é matar o casamento. Conseguirão, no dia em que a mulher desistir de desfilar como cinderela na apinhada passarela da igreja, e no dia em que ela não confiar a sua honra ao nome de um homem, ou à veneta de um homem.

Se o casamento acabar, vamos precisar arrumar outro com o mesmo sistema, e talvez com o mesmo nome. Os homens, principalmente, são seus grandes detratores. Trata-se de uma instituição falida, dizem eles. Claro. Se lhes dessem a mulher sem rituais, eles não se casariam. Alexandre Dumas que jamais se casou afirmava que o casamento era uma cadeia tão pesada que são necessárias duas pessoas para arrastá-lo. Então os homens se casam porque querem a mulher. Se vier acompanhada de dote, menos mal.

As grandes virtudes estão mais no equipamento masculino que no masculino. Questão da necessidade maior de esperança, de fortaleza, para sustentar a vida, a sua e de outros. No capítulo dos casórios, a mulher, por motivos sociais e outros, casa devido a um leque de pretextos: a) para não ficar solteira; b) para dormir com um homem, com o aval da sociedade; c) para fazer raiva para a melhor amiga; d) para casar primeiro do que a prima; e) porque conseguiu um bonitão e quer fazer inveja às outras mulheres; f) ora! Todas se casam, não é mesmo? g) para sair de casa, que meu pai é um panaca; h) pois tenho que me vingar do Jonas, aquele cretino, que me deu o fora; i) caso com o primeiro que me pedir, não sou tão bonita assim para ficar me fazendo de difícil; j) tenho que garantir o meu futuro; k) se não der certo a gente descasa; l) ele não é nenhuma perfeição, mas todos são iguais; m) esses defeitos? depois que casar, endireita; e por aí além.

Pois, tudo isso é muito razoável, dá festa, vestido lindíssimo, igreja cheia, chá de cozinha, aliança na mão esquerda, certidão de senhora dona, apartamento para dois, cama de casal, marido às ordens, acompanhante para bailes, talvez filhos, talvez soçaite, mas não dá casamento, não senhora. Casamento não é isto. E quando se desfaz, estava peco, desde o começo.

Casamento com ou sem papel de cartório e blábláblá de sacerdócio, tem que ter três componentes essenciais, das duas bandas, de cá pra lá e de lá pra cá: três AAA. Amizade. Admiração. Amor. Não necessariamente nesta ordem.

Pois o que parece é que a humanidade diante do sexo se torna cada vez mais incompetente. A oferta é de tal monta, que o desinteresse vai acompanhando os excessos. Como esses produtos manufaturados, que requerem muito anúncio, muita propaganda, muita sutileza, para se assenhorearem do mercado. O produto se desvaloriza, baixa o preço, cai a moda, ninguém mais quer. Enfarados. E então?

Então os homens vão ficando cada vez menos homens e as mulheres cada vez menos mulheres.

Então estamos a braços com “n” problemas: sexo precocemente, gravidez idem, crianças abandonadas. Ah1 as crianças que ninguém quer! Antes, a permissão para o sexo era dada pelo casamento, com as bênçãos da igreja e da sociedade. Hoje a permissão é outorgada pela camisinha, e também pelos contraceptivos.

Foi-se o tempo em que o filho era esperado e desejado. Tornou-se execrado pela maioria, ou pelo menos rejeitado.

E o sexo está sendo a coisa mais importante desta vida, com tudo o que se almeja em termos de prazer e de viver.

Confrange o coração imaginar um mundo naufragando num mar de esperma!

Não é problema de hoje, nem tudo foi inventado por nós. Porém não esqueçam a prostituição sagrada, o Kama Sutra e qual é a profissão mais antiga que se conhece.

Na procura desvairada do prazer, muitas mulheres querem se igualar aos homens. Ir livremente à aventura. Como se pode mentir dessa maneira ao próprio corpo? Pois temos que viver a vida para a qual nosso organismo foi formado. Essa é que é a grande verdade.

E como se pode mentir dessa maneira à própria alma?

A pergunta é: até onde iremos, na busca exclusiva do prazer? O prazer por si só precisa de estímulos cada vez mais fortes como qualquer droga. Precisa de novidades, de novos ambientes, de parceiros novos, de motéis com espelhos, de bebidas, de inventos contínuos, outras fórmulas e outras variedades.

Segunda pergunta: o que é preciso aumentar, em intensidade, para que consigamos o êxtase? 

Terceira pergunta: por quanto tempo? 

Mais uma: sem dano?

E mais: com dignidade?

E mais: não lesivo para a vida?

Repitamos o existencialismo que afirma: a existência humana deve ser o primeiro objeto de reflexão filosófica, eis que, conforme Sartre, o homem não é um simples acontecer histórico e acidental, mas só o que faz de si mesmo na existência concreta e contingente. A condição humana é a de ser em situação e de ser-no-mundo, diz Kierkegaard. A existência é obra de nossa liberdade exercida dentro de situações concretas e peculiarizadas do existir.

A experimentação faz parte do nosso crescimento existencial e tudo é permitido dentro de uma auto-disciplina que deve passar pela educação, e mais categoricamente, tem que passar pela educação.

E quanto a sexo, a experiências, ao existencialismo, vamos a Somerset Maugham que com ironia corrige os exageros filosóficos: 

Botelho Netto
Foto de Botelho Netto
Para se conhecer o gosto do carneiro, não é necessário comer um carneiro inteiro, basta provar um pedacinho.

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