segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Progresso é muito caro

Ruth Guimarães

O progresso está afeto às coisas materiais da vida. Ao conforto, ao bem estar físico, à comodidade, ao luxo, à vaidade, às facilidades. O progresso aciona os grandes movimentos que alteram as civilizações, interessa ao homem social. Qual foi a invenção que tornou o homem melhor, em si mesmo ou para os outros?

Seja qual for a civilização, egípcia ou babilônica ou americana do norte, seja qual for a época, contemporânea ou arcaica, seja qual for o regime, o homem é sempre o mesmo. O progresso científico somente influencia a sua vida na medida em que lhe abre as portas.

Além disso, o progresso é muito caro. A moeda para quitá-lo na difícil adaptação é o tempo escasso, a inquietação, o medo, má distribuição de todas as messes e vantagens, as guerras. Caríssimo o progresso. E quem paga? Naturalmente o povo, feito das criaturas mais sofridas e mais inermes. E dessas criaturas mais inermes, quem sofre mais? A criança e o velho.

Há cem anos ia-se do Rio de Janeiro ao Sertão do Cariri, ou vice-versa, não é o sertanejo correndo da seca, nem migrante nenhum. Estes levam os momentos antigos três meses, e vão embarcados em suas desgraças.

Com todas as inovações e inventos e remédios e operações magníficas, e o milagre das comunicações, o homem nasce sozinho, vive sozinho e morre sozinho. Nem por essas magnificências o homem morre menos, sofre menos, realiza mais ou está mais contente. O progresso realmente, não solucionou o problema da (in)felicidade do homem.

Dar-se-á, de acordo com a afirmação de algumas religiões, que viemos a este mundo para sofrer e purgar nossos pecados, como dizia o poeta, e tão lamentável é a condição humana que só o chorar não é necessário aprender. É tão somente isto que já nascemos sabendo.

Haverá esperança para a humanidade? Algum dia o homem aprende a usar o progresso, isto é, os foguetes, o avião, a internet, a química, os plásticos, a eletrônica, a cirurgia plástica, para o fim primordial não de conforto, não o aumento do ócio, mas para ensinar o homem a ser feliz? Uma coisa fundamental já sabemos: não há felicidades para o egoísta. Ninguém poderá ser feliz se não acudir ao próximo. Haverá felicidade para o velho, tão perto da morte?

As civilizações têm procurado olvidar que a velhice é o tempo de morrer, o que também não resolve o dilema.

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