segunda-feira, 3 de junho de 2013

O Escritor

Ruth Guimarães

Falávamos pomposamente, solenemente, com o ar de superioridade que convém a quem discute tão altas cavalarias: da moral profissional do Escritor. Ai, amigo, não me tente!

Conversar a respeito da frouxidão dos laços morais é perpetrar uma série de lugares-comuns, da pior espécie. A pátria e a literatura não ganham nada com isto. Abra os jornais. Roubos, desmandos, desvios, estelionatos e peculatos, negócios de funções e de consciências, esse é o noticiário. Não repisemos. De quem é a culpa? Do Escritor? Será ele condicionante ou condicionado? Pois numa hora destas falar em moral profissional, especializada, do Escritor é assim como quem diz, parodiando a palavra grave da Bíblia, que é mister endireitar a sombra de uma vara torta. Eis que o Escritor, antes e acima de ser artista, é Homem. E quero crer que melhor seria falar de moral em si e por si, da Moral simplesmente, porque aquele que é correto como pessoa, que é íntegro na sua simples condição humana, será probo e reto como Escritor. Não é a profissão que escolhe o homem, o solicitado, o que se diz com soberbia o escolhido, que se adapta, se ajusta, responde, integra-se e reage, como o Homem que era antes, como o Homem que é durante a concepção, como o Homem que será depois. Ele é vidraça que luz atravessa, mas não modifica.

Pode-se mentir com a língua ou escrevendo ou agindo, diz o amigo. Digo-lhe que não se pode. A Verdade pode estar no fundo do poço e muito bem escondida. Mas a mentira não está em parte alguma. Porque não existe. O que não é, não existe.

Aí está amigo. Não falemos a que o Escritor deve ou pode cingir-se, estritamente como escritor, pois que a moral é uma, uma inteira e indivisível. Não podemos retalhá-la para dar um pedacinho de cada cor a cada um, para não misturar. Como conciliaríamos a moral dos poetas, a das mulheres, a dos comerciantes, a dos ladrões, a das crianças e a nossa? Daria uma colcha de retalhos, como a do Diabo, possivelmente. Eis que nos é vedado tentar ao Senhor, nosso Deus. Deixemos o Demônio em paz. Não é preferível?

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