Ruth Guimarães
Os animais, no sítio meio abandonado, eram seis: o pato, rebolando pelo terreiro, a cabra aos pulos e aos berros, o galo. Dentro da estrebaria, o boi, ruminando; o burro, o carneiro.
A luz da estrela iluminou tudo de uma vez, no repente. A luz era clara, azulada, com raios dourados que desciam do céu. A música suavíssima continuou o silêncio. O galo encarapitou-se na cumeeira da casa do animal e anunciou bem alto:
- Jesus nasceu!
- Quando foi? – indagou o Burro, abananado uma orelha.
- Onde? – mugiu o Boi, parando de ruminar por um momento.
- É mentira! – berrou a Cabra, azuretada, pulando e espirrando.
- Em Beléeeeem! – baliu o carneiro, interminavelmente.
O Pato deu uma corridinha com aquelas pernas curtas e pés espalmados e duvidou:
- Qual! Qual! Qual!
Então os animais foram se chegando e viram na mangedoura a causa de tanto alvoroço. Deitado sobre o capim cheiroso, recém-cortado para o Burro e o Boi, estava o Menino.
Os pastores, com o seu rebanho nevado de ovelhas, pararam na porta da estrebaria, calados, respeitosos, torcendo numa das mãos o gorro, com a outra se apoiando aos cajados rústicos, feitos de raiz de árvores.
-Quem é? perguntavam entre si, sem encontrarem resposta.
Mas a estrela estava ali. O Boi e o Burro aqueciam com a pesada respiração os pezinhos do Menino. Eles habitaram o mistério e souberam, sem ninguém contar, que um deus tinha nascido.
Viram os zagais da planura revoarem os anjos e espantados falaram entre si:
- Vamos a Belém e vejamos o que o Senhor quer nos mostrar.
E foram com grande pressa, seguindo uma estrela que no céu aparecia em todo o esplendor. E seguindo-a, foram ter a uma estrebaria. Na casa escura do animal, de chão enxovalhado de estrume, estava uma mulher moça, um homem maduro e, deitado na palha, um menino. As ovelhas baliram docemente e os pastores adoraram, de joelhos na terra, a extraordinária criança.
Assim se conta a velha história. Mas também se conta assim:
E como se estivesse cumprido o tempo, nessa noite nasceu um Menino. Recentemente saíra um édito, emanado de César Augusto para que se fizesse um recenseamento. Foi pois José, da Galiléia para a Judéia, da Judéia era a casa de Davi. Parou em Belém e acolheu-se a uma estrebaria. Devido à afluência de peregrinos não havia lugar para eles nas estalagens.
E como estivesse cumprido o tempo, na mesma noite nasceu o Menino e foi agasalhado nas palhas da mangedoura. De súbito apareceu uma multidão da milícia celestial:
“Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.”
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