quinta-feira, 25 de abril de 2013

Três foi conta que o Diabo fez

Ruth Guimarães 

Afinal, o que há com o número três? 

A significação atual deste adágio é: o que não der certo uma vez, duas vezes, não dará mais certo. O melhor é desistir. 

No entanto, é mais sutil e toca o místico. Três punhados de terra atirados na cova, desejando que o morto descanse em paz. Três pétalas de rosa. Três gritos para São Longuinho. 

João Ribeiro dá a forma do adágio consignada por um poeta da academia dos Singulares: 

Às três o Diabo fez. Apoiando a hipótese de uma origem mística do adágio, temos a variante: três foi a conta que Deus fez, recolhida por Cardoso Carta e Augusto Pinto, em Folclore de Conselho da Figueira da Foz. 

Sebastião de Almeida Oliveira na “Expressões do Populário Sertanejo” dá mais duas expressivas variantes. Segredo de três o Diabo fez e sete, o Diabo que te espete. 

Xavier de Montepin, o popular escritor francês, cita num romance de Capa e Espada, o fiacre de número 13 – uma variante: conta de três, o Diabo o fez. 

É muito vulgar a crendice de que é perigoso três pessoas servirem-se do mesmo fósforo para acender seus cigarros. O povo não determina o mal que pode acontecer aos violadores dessa proibição, mas parece tratar-se de perigo de morte. 

Há no inferno três juízes: Éaco, Minos e Radamanto. Pesam as boas e más ações dos humanos, instruem os processos e dão as sentenças. Em caso de empate, o árbitro é Minos. 

Quando Hércules foi concebido, filho que era de Júpiter e de Alcmena, mulher de Anfitrião, o rei dos deuses fez com que uma noite se prolongasse por três noites. 

Tendo o número 3 implicações de importância numérica e mística, com representações simbólicas na cruz, na tríade, no triângulo e nos 3 círculos entrelaçados, o numero 9 chamado a tríplice tríade, tem tríplice abrangência. 

Se são 9 os círculos do céu, 9 são os círculos do inferno, e 9 os compartimentos do purgatório, que Dante nos oferece, talvez por amor à simetria. Porque três conta que o Diabo fez? 

A rosa de Jericó, também conhecida como flor da ressurreição, porque lhe atribuem a propriedade de brotar e rebrotar sempre, surgiu com relação à fuga de José e Maria para o Egito, a fim de evitar a degola do inocente Jesus. Ao descer da jumenta que montava, Maria encontrou sob os pés flores que brotavam juntinhas como tapetes pelo chão e procuravam amaciar-lhe o caminho. Durante a vida de Jesus, o rosal se manteve formosamente viçoso, pétalas de seda ao sol. Três dias depois da Crucificação, não havia uma só rosa viva, nem sequer uma folha, em todo o roseiral. 

Três o Diabo fez, é antífrase de outra, usada no bom sentido: três, Deus fez. Ora, Deus é a soma das 3 pessoas da Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo, isto é, um só Deus verdadeiro. 

E, visto tudo isto convém repetir com os pitagóricos: os Números governam o mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário